NOITADAS

 

    Está visto. Dieta e caldos de galinha, água das "pedras" e chá de tília, bolachinha de água e sal e horários monásticos. Nada de noitadas, de vapores dançantes, gargalhadas, discussão a alta hora, FUM, FUM, FUM, CÁ, CÁ, CÁ! ! !
    Um tipo depois não prega olho, vira-se e revira-se, está com os fígados acelerados e a gemer, o cérebro exercitando czardas, as horas a passar, os passarinhos PIU-PIU cá fora, a cabeça a inchar como a passarola de Bartolomeu de Gusmão.
    Erguer-se, não da cama, mas da tumba, a luz da manhã a deixar-nos como acontecia ao Drácula quando se esquecia da capa, preta por fora, rosa por dentro, a consciência da grande aldrabice do bi-substancialismo cartesiano, a matéria vil mais o espírito incorrupto. Ora, nada de mais falso. Se "Res Cogitans" e "Res Extensa" não se deitam a horas, os turbilhões atómicos começam a girar de fora para dentro, assim criando um vento subtil que, subindo pelo nervo óptico, agita os espíritos animais, os quais, como está implícito na noção de "Animal", uma vez à solta, fora da mão férrea da Vontade, se repoltreiam com grande alarido cada um para seu lado! Recomenda-se purgante.


17. 07. 92


 

  • © Levi António Malho   -  Regressar a   " De Literatura, um pouco..."
  • Actualizado em 13.04.2001
  • Visitantes:   Hit Counter