" Segredos do Tempo"

  • Elogio do Despertar

    ©  Lúcia Costa Melo Simas .( 2008 )

 

          

       

  Superfície dos Dias

[   Lago no "Jardim de S. Lázaro"   ( Escultura,  Porto, 2004) ]

© Levi Malho - Imagem digital

 


  

                  

                       1- A interrogação do óbvio

 

 

    Nada mais evidente do que o mundo colorido que nos rodeia. Descobrir que é uma ilusão e que o mundo não tem cores, mas sim o ser humano é que capta desse modo tudo o que vê, causa alguma perplexidade. Há outras radiações que também não captamos e sabemos que temos menos receptores que as luzes do universo.

   Interrogamo-nos sobre quantas mais radiações existirão que nem pela tecnologia e contínuas descobertas científicas alguma vez captaremos. Só conseguimos descobrir o que esteja dentro dos limites dos sentidos e da razão. Mas estes limites são os humanos e não do cosmos.

    Ao observar qualquer quadro, onde as cores estão no âmago de tudo o que lá se revela, descobrimos que concebemos ali um mundo, apenas para seres humanos e estamos dentro de outra ilusão criada a partir da primeira. Todavia, essa forma atribuída ao mundo é um privilégio paradoxal de encontrar beleza e habitar um universo para além do que se afirma real.

        A dúvida ainda se aprofunda mais ao recordar que Kant[1], na sua genial obra, atribui odor e cor à rosa como “fenómeno” com os seus predicados comparáveis na sua “existência” aos anéis de Saturno. Se a cor e o odor são para ele aparências, essas representações mais se evanescem como um “Não-Ser” de Berkeley que Kant refuta. O famoso bispo irlandês, ao reduzir tudo a simples “aparências” inclusive nós próprios, captava uma outra forma de além realidade. Ainda não se afirma hoje esse além, mas a evolução científica veio dar mais hipóteses inquietantes.

    O “Não-Ser”, na estabilidade do tempo, tanto se aplica ao sujeito transcendental, isto é, a quem conhece, como ao objecto conhecido. A intuição, a existir, é já uma construção ideada por uma consciência. Todos os seres vivos, em diferentes formas de relação, têm percepções. Este conceito, tal como a ciência nos oferece, tem mais rigor do que a intuição. O tempo é, como bem diz Kant, uma forma pura, ou seja, “vazia”, e acima de tudo podemos pensar na temporalidade apenas como condição inerente a toda a representação. Porém, a duração oculta-se no incessante devir de tudo e, portanto, também está no próprio objecto percebido.

        Para haver conhecimento, é óbvio que tem de haver esse tempo de que fala Kant, mas a sua presença está em tudo, tanto no sujeito como no objecto. Pode até referir-se que tudo está em temporalidades diferentes.   A incerteza acerca do tempo instala-se subtilmente na linguagem e nos modos de o entender. Basta uma frase para ver os muitos sentidos a que o conceito da temporalidade está sujeito:

   “Um livro essencial para compreender o nosso tempo, especialmente da parte da tarde[2]·.

 

      Em todas os períodos da história, quer o simples mortal, quer o cientista ou o filósofo, se interrogaram pelo sentido do tempo.

       Quando pensamos na temporalidade, vem-nos sempre à mente as reflexões de Santo Agostinho:

 

    “ (…) …que assunto mais familiar e batido nas nossas conversas que o tempo? Quando dele falamos, compreendemos o que dizemos. Compreendemos também o que nos dizem quando dele nos falam. O que é, por conseguinte, o tempo? Se ninguém mo perguntar, eu sei; se o quiser explicar a quem me fizer a pergunta, já não sei[3].

 

     Manifesta, o perspicaz pensador, a sua perplexidade perante o óbvio. Sendo a experiência do tempo, um dos temas que aborda nas suas preocupações acerca do que podemos conhecer, Santo Agostinho, aceita um fundamento ontológico do universo. Assim tem sido ao longo dos séculos.

     Tal como hoje somos capazes de o apreender, o universo tem uma existência que não podemos entender no seu todo. Afinal, confirmou-se que o cosmos não tem estaticidade e o seu devir tem variáveis de velocidade.

   O tempo, na sua polissemia, assume muitas e caprichosas mudanças. Adivinham-se mesmo que, possivelmente, para além daquelas que podemos captar, existem outras, mas para essas não temos receptores. A experiência empírica apenas foi o ponto de partida, mesmo que se aceda a objectos, como agora comummente acontece, através de interpretação de construções tecnológicas e mentais, limitamo-nos pela nossa subjectividade.

  Qualquer forma de tempo é difícil de entender pois estamos habituados a aceitá-lo como evidência. Porém, no seu sentido profundo, procurou enraizar-se na ontologia. Surge logo grande dificuldade em sustentar isto. Já Bachelard, ao analisar psicanaliticamente o fogo, acaba por nos revelar uma evidência. Afinal, o fogo não existe. Apenas existe a combustão de objectos. As teorias científicas são sempre complexas. Delas sabemos rudimentos que nos levam a sentir respeito pela ciência e a não vulgarizar conceitos científicos levianamente ou para extrapolações arriscadas ou falsas.

    Sabemos bem a importância das teorias da relatividade, para não a aplicar à arte, ao relativismo cultural e moral a que se chegou e que deriva de outras causas ou do mau uso do que se julga saber. A ideologia pouco terá a ver com a teoria de Einstein[4] e, se acaso tiver, a causa não está nas teorias, mas na simplificação e temeridade com que se dá a apropriação das ciências. Toda a simplificação é abuso e erro perigoso.

   Aceitando o pressuposto das descobertas da física, o universo não existe. Não quer dizer que um bom bife não seja um excelente almoço. Tudo tem realidade, se o entendermos como dependendo dos seus compostos, das estrelas a um grão de areia ou a um átomo. A temporalidade é de todos os sujeitos e está em tudo. Só para nós torna-se numa das facetas do que observamos. Não será lá muito óbvio mas somos feitos do pó das estrelas e já estávamos presentes na explosão do big bang. E, curiosamente, a nossa existência, enquanto seres humanos, foi e será uma questão de tempo.

 

 

 

               2 - Os heterónimos da realidade

    

 

 

     Muito embora, tudo o que sabemos da realidade, seja a partir dos dados perceptíveis, a construção do cosmos deve já quase tudo à estrutura mental elaborada a partir desses dados e bem pouco do que empiricamente alcançamos. A ordem que lhe damos depende da razão mas há um certo conforto em saber que é verificável, ao menos em parte, na sua aplicação prática. De outro modo, não se entenderia como equações matemáticas, tão elaboradas e complexas, levariam o homem a chegar ao espaço.

    Ora só no ser humano é que o tempo toma profundidade e se desdobra em heterónimos. Claro que outros animais captam a duração, mas nunca em condições filosóficas ou científicas. Falar do tempo tem de ser como aludir a um heterónimo do composto ou realidade do cosmos, sem esquecer que o espaço e a matéria estão sempre presentes. Somos a forma em que o tempo toma consciência de si. Em função disto, poderá brotar um outro modelo antropológico?

    O fogo também não existe, tal como a água, ou os outros elementos. Os quatro elementos primordiais têm, ainda hoje, dificuldade em serem aceites sem existência própria.

    Quando astrólogos e videntes ditam as suas revelações, têm fontes cuja realidade já foi negada. Logo, a sua arte também deveria estar seriamente em causa, já que o pensamento científico tanto se desenvolveu. A ruptura entre a linguagem científica e outras formas de expressão é óbvia, mas convivem alegremente, fomentando o risco oculto do “pensamento mágico” ou da sedutora simplificação. Bater na madeira para dar sorte, pensar que, por ver um gato preto, vai haver azar, que se vai passar num exame, se ao atirar numa pedra acertar numa árvore, são exemplos disso.

  O Sol ainda nasce e nascerá por muitos séculos?

 

   Também o conceito de tempo encerra as maiores contradições e ambiguidades por ser usado nas suas mais variadas grandezas. Existimos e somos temporais. Estas são equivalências em que o nosso eu, a nossa cidadela, a consciência incerta do contínuo passar com o todo que nos envolve e connosco forma mais um enigma do universo.

   A banalização dos erros aceites como evidências é das mais difíceis de destruir. Reparemos como o “horror ao vazio”, que a Natureza tinha e que Aristóteles usava para explicar a queda dos corpos, foi aceite durante tantos séculos, vendo todos os dias a queda dos objectos, sem entender o que realmente acontecia. Temos de aceitar que todo o saber, tido como estável e até evidente, é perigoso. O hábito nega-se a toda a interrogação, exerce uma acção de inércia que tende a aumentar com o saber adquirido. Na temporalidade é que somos humanos. Temos um espaço próprio, a nossa forma material e a temporalidade da existência. Desde o nascimento, caminhamos, num contínuo sem paragem, numa destruição imperceptível no nosso devir.

   O instante, desdobrado até à sua destruição, demonstra que o que chamamos presente, passado ou futuro é uma convenção. Bastaria chamar, lá da Antiga Grécia, o sofista Zenão de Eleia e ele, através do espaço destruía o tempo! Ou não fosse um excelente e genial sofista, sem qualquer sentido pejorativo. Cremos que Zenão, Planck e Einstein gostariam de conversar,

    A questão do tempo tem de ser posta em causa, refutada e bem reflectida, ou viveremos no erro e na superfície ilusória das coisas, como se coisas também nós fossemos e nos rouba o que de mais precioso temos. A capacidade de pensar, de reflectir, não só sobre o que julgamos saber, mas também sobre o que nem temos noção de que não sabemos.

   Em todas as épocas, a humildade do filósofo devia tornar-se a denúncia que atravessa e se cruza com as convenções e hábitos de pensar.

 

 

 

                           3 - Tempo, nó górdio do conhecimento

 

 

 

   A consciência do tempo só se dá sob a forma de duração que tem em si mesma muitas oscilações. Podemos passar toda a vida sem notarmos a falsa realidade e a ilusão que a medição do tempo pelo espaço, relógios, cronómetros ou rotação da Terra, faz parecer existir numa exterioridade que o torna “fora de nós”. Vivemos como se tivéssemos “fatias de tempo[5]” para gastar. Tais fatias somos nós e o gasto é a nossa desaparição.

    Uma empresa paga a um funcionário pelo tempo de serviço. Vendemos pois o nosso tempo. Há temporalidades mais valiosas ou não, conforme a sociedade entende. Assim, um mecânico que conserta um velho carro perde muito da sua temporalidade insubstituível, tal como um médico diagnostica e estabelece um tratamento em poucos minutos. Oculta-se o valor do tempo da aprendizagem e o enriquecimento do “palácio da memória[6]” de que falava, com tanta profundidade, Santo Agostinho. Essa temporalidade, que se pressupõe no presentificar de todos os conhecimentos anteriores, é que nos torna capazes de tarefas bem complexas e aparentemente simples.

    É pela memória que nos revelamos na temporalidade. Qualquer percepção estrutura-se num contexto em que a memória reúne o passado para poder entender seja o que for.

    O espaço é a forma condicionante externa com que lidamos com o tempo. Por isso, servimo-nos da rotação da Terra para designar toda a cronologia. Mas o significado de um milhão de anos-luz de distância de uma estrela, a idade de uma criança, ou a datação de uma árvore pelo carbono 14, estão longe de se identificarem.

    Se o tempo se mede pelo espaço, este está relacionado com a velocidade. Mas tanto a estrela como uma criança, um animal ou árvore, têm tempos subjectivos diferentes.     Nada melhor do que ter a noção formal do sujeito transcendental para recordar que a parcela do saber que atingimos nos abre a porta para a certeza do que não sabemos. Há um lado escuro incomensurável como a “matéria negra” da qual só pronunciamos o conceito racional.

   Para além do conhecimento fundado na experiência empírica, há a forma do entendimento e as ideias da razão. Hoje, os senhores da ciência actuam com toda a alta metodologia que vai surgindo e vão como que aumentando as capacidades dos sentidos. Dependemos sempre dessa fonte, mas o conhecimento é cada vez mais uma longa e complexa mediação.

    As descobertas revolucionárias das ciências exigem espírito filosófico renovado e não apenas uma série de epistemologias que se aplicam aos saberes, sem remodelar antes a própria epistemologia. Ainda estamos a digerir o darwinismo e já outras sérias revoluções se propõem.

      Parménides, como que iniciou a primeira viagem filosófica, em termos poéticos em seu recurso para ultrapassar os problemas de uma linguagem nova acerca do conhecimento e não do que se conhece.

     Kant, o grande cientista, filósofo e visionário, afirmava já claramente o que Parménides descobrira, ou seja, que se “interessava menos pelos objectos do nosso conhecimento do que pelo conhecimento dos objectos, tal é o sentido da palavra transcendental”. Tanto o sujeito é construído como o objecto, fenómeno, no sentido kantiano.

   O tempo era atribuído ao sujeito e à sua condição, mas temos de considerar a existência de diferentes tempos que nunca coincidem.

     A harmonia dos objectos entre si depende bem mais do modo como se entende esses objectos, do que desses objectos entre si. A lógica está do lado do sujeito que a aplica, com mais ou menos êxito. Apercebemo-nos que o todo não se capta nem se revela.

    Cada vez mais, o conhecimento é mediato. Além do sujeito, há a mediatez de todo o objecto que se pode conhecer. Toda experiência empírica é filtrada por um longo processo racional e a tecnologia que nos aproxima, paradoxalmente, afasta-nos da realidade. Por exemplo, a distância que nos separa de uma estrela é conhecida através da cor que percebemos através dos meios adequados.

       Partimos da razão para interrogar o universo, passamos por todos esses meios que nos tornam mais clarividentes e voltamos a pedir o veredicto da razão. Cada evidência que se descobre torna-se um ponto de chegada para ser um ponto de partida. Talvez a formação de um além realismo surja para criar um novo espírito filosófico.

    O conhecimento científico sofreu uma alteração tal, que apenas colhemos a obrigação de uma nova revolução copernicana similar à kantiana. Os conceitos e os temas terão de ser tratados de um modo novo e criativo para além das constantes reformulações do que se convencionou chamar terreno filosófico.

     Face à velocidade crescente do conhecimento, em mais ou menos cento e cinquenta anos, o homem comum parece desconfiado e distante. O conhecimento científico não pode ficar alheio porque o mundo muda mesmo a um ritmo implacável. Todavia, a prudência é salutar à apropriação ávida e incerta de mudança de terreno. O rigor e o método, tanto científico como filosófico são imprescindíveis para uma tarefa com alguma credibilidade.

 

             

 

 

                         4 - Paradoxos inevitáveis

 

 

 

     Uma vez, reparámos num caderno de um aluno distraído. Na capa, estava lá escrita, em original caligrafia, uma frase colhida das nossas conversas e que, de repente, nos pareceu como nunca nos tínhamos apercebido. Era um pensamento de Platão: “ O tempo é a forma móvel da eternidade imóvel”.

   O dualismo entre a eternidade e o devir do tempo estava ali com toda a sua profundidade. São incompatíveis pela sua essência. Não pode haver eternidade num devir do cosmos que tem, como um dos seus elementos, a temporalidade.

    Na física, a temporalidade aparece, naqueles enigmáticos milionésimos de segundo após o big-bang. Não há antes nem depois. Ali se inicia um contínuo suceder em expansão crescente. Por traz da explosão imensa, podemos supor existir a Eternidade ou o Nada, ou então a repetição de uma série infinita de universos.

    A ter de considerar a existência do tempo no cosmos, teríamos de o tentar entender parafraseando toscamente a sentença de Platão:

    A velocidade da luz é a forma estável do tempo instável.

   Quando pensamos no tempo como “axioma[7], vemos que o absoluto ou a substância desaparecem, e temos uma certeza. A necessidade de levar as pessoas a reflectirem acerca das categorias em que pensam e a presença ilusoriamente segura do que conhecem.

  A nossa paráfrase é errónea, apenas troca o tempo absoluto de Newton por um relativo e coloca uma barreira na velocidade do tempo que sabemos poder apresentar-se “ dilatado” ou “contraído” no Universo. A velocidade da luz é que se verifica ser uma constante.

    Nada melhor, todavia, que ter cautela e não usar o relativismo da física em delírios de imaginação e fora do seu contexto. O próprio Einstein se assustou com tal vulgarização[8]. Começaria com a comparação de culturas e nos escritos filosóficos e depois passou à literatura e demais artes.

    O tempo é um paradoxo na sua substancialidade, uma ilusão, ou abstracção. Manifesta-se nos seres num “movimento” semelhante a um concerto de uma imensa e magnífica orquestra, onde todos têm um papel a desempenhar, mesmo sem o saberem. No caos pode descobrir-se uma oculta ordem onde parece haver só o caos, descobre-se uma ordem com rigor na mais ínfima particularidade. O homem é o único ente que capta a noção de duração, tanto em si como nas coisas. Afinal, a imobilidade é incompatível com o tempo.

    Quando Parménides falava do Ser, falava da eternidade. Quando Heráclito falava do devir, falava do tempo. Indo mais longe, Parménides apenas afirma a necessidade do Ser ontológico na lógica e na linguagem. Do “Não-Ser” nada se pode dizer ou saber, pois “Não-É”. Quando a doxa afirma que o “Não-Ser” é, contraria as leis da lógica e, ao dizê-lo, afirma o Ser e não o Não-Ser, pois assim é a lei férrea da razão nos mortais.

    Para os gregos do seu tempo, Parménides foi também um notável jurista. Nada de admirar pois, que o rigor e a verdade estejam presentes no seu poema em que as aporias do dualismo denunciam os paradoxos da eternidade e o tempo.

    São tão variadas as formas da temporalidade que Ília Prigogine[9] insiste em não tentar explicar “a flecha do tempo”. Sabemos que existe, mas não porque surgiu. “O tempo irreversível, a diferença entre o passado e o futuro, precedem e condicionam tanto a realidade física como as perguntas do físico!

    Os cientistas têm teorias sobre a origem do universo, mas deparam-se com um paradoxo. Com a história do universo começa o tempo e este acontecimento não é como nenhum outro, pois é único. Fala-se ainda com menos segurança do que “haveria antes”. Se esse antes é pensado como nada, mas esse vazio parece ter leis.

 

 “É um mundo sem lugar, sem duração, ou eternidade, sem número. É aquilo que os matemáticos chamam «o conjunto vazio», Porém, este vazio impensável converte-se em existência plena – uma consequência necessária das leis da física. (…) Onde estão as leis escritas nesse vazio?[10].

 

      Para esse antes do tempo a linguagem não tem recursos e para a ciência não tem ponto de partida nem de chegada. Esbarramos com as aporias da linguagem e com as dificuldades das ciências e da história onde o tempo é como um fragmento e as analogias causam vertigem ao pensamento quando este tenta encontrar um ponto de apoio seguro.

 

 

                        

 

                    5 - O Tear e o Tecelão

 

    Hoje, o meta-realismo é como que uma nova visão do puzzle do real que vemos sempre, como o lado do avesso de uma “tapeçaria cósmica”[11], enquanto o acesso ao conjunto harmonioso, em que tudo se combinaria admiravelmente está vedado. Essa realidade só se pressente e deduz existir. A herança de todos os Cosmos de um passado histórico e as descobertas recentes levam a uma humildade e prudência de qualquer evidência que se constrói.
         Assim como se diz que tudo pode estar vivo no cartesianismo e nada de Descartes, também o mundo do platonismo permanece vivo, sem Platão e as suas utopias também se pode dizer que a razão é o fio que nos conduz mas para fora dela podem existir mistérios insondáveis.

        Devemos insistir em nunca estar seguros de que toda a construção não seja fruto de uma forma de ilusão devida ao raciocínio que usamos. Até que ponto este desvenda a realidade, ou cria universos dentro do nosso próprio contexto racional, provavelmente jamais poderemos verificar totalmente. Se partimos de um axioma para falar do tempo, a noção de eternidade ultrapassa a linguagem.

     Surge um pensamento revolucionário na noção de meta- realismo que admite limites físicos ao conhecimento, por exemplo a velocidade da luz e a constante de Planck, que é o limite da divisibilidade da radiação e logo de toda a radiação. Na perspectiva de Guitton e dos irmãos Bodnanov estamos a “aprender um modo de pensamento meta-lógico”. Em diálogo com eles, o filósofo Guitton refere a “nova relação do Espírito e da matéria, sobre a presença do Espírito no seio da matéria. O seu projecto é substituir o “materialismo” e o “determinismo” que inspiraram os mestres do século XIX, pelo que se atrevem a chamar “meta-realismo”: “uma nova visão do mundo que, crêem, se há-de impor progressivamente entre os homens do século XXI”
[12].

     Falar do tempo é como que pegar num cubo e ver apenas uma das suas facetas. A afirmação ontológica dele esbarra com a sua unidade nos heterónimos em que está incluído sem poder existir desse modo como o idealizamos. Nada pode existir mais evidente que o tempo e também nada se revela depois mais complexo. No próprio cosmos, pensamos que há também facetas do tempo que sabemos existir e a nossa lógica ainda não se percebe.
       O tecelão, quando vê um pormenor desconcertante do avesso, imagina que a beleza da tapeçaria está no todo do outro lado.

    Todavia, nas meditações agostinianas parece-nos que o tempo assume só a dimensão psicológica e, o suposto diálogo entre o pensador e o seu Deus, é uma exposição para o entendimento humano e nunca há uma única palavra que expresse a ultrapassagem da realidade vivida. O salto para o seu Deus é a sua confiança na fé.

    A duração é uma noção de tal modo intrínseca ao nosso ser que a sua consciência mais nos faz falar de nós do que dela. A extensão ou espaço obriga a ver “fora de si” até o que pensamos. Por milionésimos de segundos, é bem verdade, mas até a pessoa que esteja à nossa frente está distante e ouve-nos num passado que nos escapa. A voz ou o texto que escrevemos já está longe de nós. Este ínfimo distante a que damos o nome de presente é um passado que se mascara. Até a suposta possibilidade de presentificar o passado nos atraiçoa. Confundimos o que recordamos com o que aconteceu e a imaginação tece um contexto coerente mas enganador pois sabe-se que a mais fiel testemunha é a que não consegue ser completamente precisa ou coerente.

   O passado é como se o eterno retorno, adaptado a um espectador que revê pela centésima vez um filme, realiza-se, só pela subjectividade, cada repetição do devir do argumento que acordará sempre novas interpretações. É infinito esse modo de tempo que nunca se realiza num retorno infiel que abre a porta ao infinito. Paradoxalmente eterno e retorno não se ajustam na temporalidade que somos. Nesta perspectiva, reflectimos sobre os escritos de Prigogine acerca da irreversibilidade temporal. Voltamos aos primeiros segundos após a explosão primordial, e aí, “ o espaço e o tempo perdem a sua distinção. (…) o nosso Universo tem uma idade, mas o tempo não tem começo nem fim”. Então, aplicando a teoria do estado estacionário, teríamos dois tempos. “O primeiro aplicável ao pré universo, esse meio instável que engendrou o nosso universo enquanto o segundo se aplicaria de maneira especial ao nosso universo[13]. Com esta especulação regressamos ao “Muro de Planck” e apenas trazemos trajes novos.

    Sendo eterno já não é temporal e fica além, quer do próprio tempo, quer da consciência. A eternidade e o tempo excluem-se e há muito por descortinar. Insistimos em afirmar um para além da realidade. Porém, só temos a percepção de um fora de nós e para além de nós que a lógica nos obriga a aceitar. É o “muro de Planck[14] que a filosofia espreita sempre. Até o que sempre designamos por realidade não existe. Pisamos terra firme, mas ela move-se e tudo está em movimento. É na incerteza que o tecelão trabalha. A teia tem os seus limites na probabilidade, indeterminação e no risco. Já não há “espelhismo”, nem imagem e os modelos e simulações ficam aquém da realidade.

 

 

                          6 - O evidente é sempre falso?

 

 

      A poesia e a matemática têm em comum a exigência de juventude. Com a maturidade, raro poeta arrebata essa inefável presença da magia das palavras e ainda menos o investigador matemático consegue criar. Como se pode notar, a temática inicial estará presente em toda uma obra, a lembrar a sua raiz, tal como nos apercebemos da presença do mesmo compositor em qualquer melodia sua. Esta evidência é uma noção embaraçosa. Quando a atingimos, já um longo caminho foi percorrido, ou temos uma evidência provisória, que uma outra virá destruir. Isto prova que, afinal, tanto a evidência como a intuição são clareiras de uma caminhada e não um ponto de chegada seguro.
     Apenas continua uma tarefa. Fala-se em novos usos para as palavras e lutamos com elas pela sua ambiguidade e os hábitos das velhas metáforas que não permitem levá-las para outros campos descobertos.

       Podemos querer voltar ao estádio intuitivo toda a vida, mas sem sucesso. O passado e o futuro não são mais do que formas de criar um espaço para um falso agora, um presente mais longo, contínuo, externo e interno que, durante toda a vida, se aplica ao eu. Sem isso, a nossa memória não teria espaço para aparecer.

        A ilusão da existência de um tempo em si é tão comum como a da existência das cores dos objectos. É em nós que a beleza de um universo colorido se transfigura. Mas quantas outras formas o universo terá? A haver outros universos, nada se altera para nós. A eternidade continua sem tomar parte na sinfonia. O infinito explode, em todas as aparências, logo que abandonamos a imperfeição do tempo móvel. Mas acerca do Ser e do transcendente, a linguagem nada alcança. O raciocínio dá lugar a uma espécie de sentimento intraduzível em qualquer discurso.

        A menos que haja outros seres vivos, com outras formas do que se convencionou chamar conhecimento e que tenham essa centelha de luz que é a consciência, nós somos os únicos Senhores do Tempo, onde ele se revela, apesar da sua presença ser inefável.  

    A consciência em nós exige inteligência, pois, só o é, se for racional. Todavia, qualquer ideia, pensamento ou motivação, por mais racional que seja, tem um fundo afectivo indissociável.

   A emotividade é como um halo que envolve o raciocínio e até o altera. A tentativa de comunicarmos o nosso sentir afectivo tem necessidade da frieza da racionalidade e não há pontes sólidas. Por exemplo, quanto se perde, da realidade de uma sinfonia ao ler a sua partitura dividida pelos elementos de uma grande orquestra? Como pode a afectividade, desinteressada e como que superadora do tempo na audição de um concerto, transformar-se numa explanação lúcida e rigorosa desse estádio estético, que não tem aqui as implicações de Kierkegaard, mas o desinteresse sem finalidade fora de si kantiano?

    Para além da fugaz e intensa emoção que a consciência experimenta, temos de contar com a traição da memória que é o grande cofre do nosso passado. Ao mencionar o passado há que ter em conta tudo o que recebemos já como herança cultural. A nossa história é muito menos nossa do que da Humanidade.

   A tríade evanescente de ontem, hoje e amanhã, em nós perdura em forma de lembrança que se poderá presentificar. Muitas recordações ficam para sempre, algumas doem ainda, outra dão-nos um sorriso, mas a maior parte de tudo isso vai para o fundo dos subterrâneos do nosso palácio das lembranças e apenas espreitam de noite e nos saúdam vagamente em horas de meditação. Afinal, recordar é já interpretar, alterar e, quanto mais se recorda, mais se trai o acontecimento. Por fim, a insistência da recordação cria uma névoa até nos interrogarmos se nos lembramos mesmo, ou a imaginação já nos está a pregar uma das suas molestas partidas.
    Com bom senso, Malebranche apontava para a imaginação como la folle du logis. Se alguém varresse a sua casa e depois recolhesse o lixo e o espalhasse de novo, eis que duvidaríamos da sua sanidade. Porém, Malebranche chama a atenção para esse trabalho que a imaginação realiza. É com os fragmentos de ideias e imagens dispersas que ela pode presentificar tanto uma utopia como uma visão mais bela ou transparente do que se percebe.

       A imaginação, para Kant, é necessária pois liga a nossa sensibilidade ao entendimento e permite a síntese do diverso. Mas não nos acautela acerca do seu chão traiçoeiro e aliciante. Preenche lacunas, do que não somos capazes de recordar com rigor, e leva-nos a um estádio de consciência vago e criador de mil mundos. Sem ser um estorvo, é uma mediação com o real. A imaginação está bem patente quando lembramos um acontecimento. Por muito recordar, as lembranças confundem-se, os factos alteram-se. A recordação é sempre a recordação de uma recordação que se multiplica e afasta de qualquer acontecimento que, por sua vez, foi interpretado com uma determinada disposição afectiva. Daí decorre que se pode rir de já ter chorado e chorar de já ter rido.

    A nossa própria identidade, no seu devir, não nos é fiel às recordações. Mentimos sem saber, ao longo da vida por mais veracidade que juremos a nós próprios. Afinal, é porque somos devir que somos traídos, denunciamos a nós mesmos o que nos parece agora errado e o que nos parece estar certo. Mas, uma névoa de incerteza esconde-nos a nossa própria história. Também as sombras caem sobre a própria História tantas vezes contada, mais vezes interpretada, mais ainda imaginada.

 

 

                     7 - Qual é o nosso tempo?

 

   Nomeamos o nosso tempo. Mas que tempo é esse? Nestes casos, é sempre no pretérito que falamos dessa época. Imaginamos que algum tempo foi nosso, com certa nostalgia, quando nos apercebemos de que as novas gerações têm um outro modo de olhar e viver psicológico e social. Olhamos para trás como se tivéssemos tido um tempo em que éramos eternos e estávamos em estado de graça, pelo menos, num curto tempo histórico.
   No início do novo milénio, na nossa própria história, sentimos que fomos atónitos espectadores de magníficos e horrendos acontecimentos. Para além disso, a consciência prova que assistimos a revoluções que, no seu todo, nunca foram tantas nem tão velozes. Não há lugar para olhar para o passado, pois em menos de um século, o mundo mudou, a ciência alterou-se, com uma velocidade incrível e não parará de aumentar a rapidez de descobertas inimagináveis para os nossos antepassados de apenas duzentos anos atrás.

    Cruzamo-nos com pessoas de várias gerações, com mentalidades que se projectam mais no futuro ou se recolhem prudentemente no passado. A ciência está a intervir em todos os campos. É a maior revolução na história da humanidade que se passa diante dos nossos olhos atónitos. Fascina e aterroriza. Subimos a montanha num tempo tão breve que sentimos a vertigem da altura.

    O nosso planeta parece cada vez mais pequeno e complexo. Alguns povos vivem ainda na pré-história, outros em lutas fratricidas, enquanto cientistas lançam sondas no espaço e sonham com a ida até às distantes galáxias.

   Apetece-nos voltar para trás e ouvir as animosas palavras da Deusa Dikê [Justiça] ao acolher o jovem Parménides, depois deste passar da noite para o dia e atravessar o abismo hiante entrando na morada da benevolente deusa:  

     “Não foi sorte mesquinha que te impeliu a seguir este caminho – bem longe do trilho dos homens, na verdade, mas a Justiça e o Direito. Força é que saibas tudo: o ânimo inabalável da rotunda Verdade [Aleteia] e a opinião [Doxa] dos mortais, em que não há confiança verdadeira. (…) …aprenderás como as aparências devem ser julgadas, tudo passando através de todas as coisas”[15].

 

    É, como se a alegoria se realizasse e temos nova visão e necessidade de outra linguagem para uma estrutura completamente diferente de todo o anterior. Passámos da doxa, opinião do comum dos mortais, para a descoberta de tantas aparências que sempre os seres humanos aceitaram como reais. Passámos por “um abismo hiante” e, de repente, descobrem-se novas verdades e as ténues sombras que tomávamos por realidades desvanecem-se a muito custo. 
    Impõe-se-nos a questão. Não será esta meta realidade outra aparência ou, ainda pior, mais uma ilusão da nossa razão? O importante não é caminhar, mas saber em que caminho estamos…

 

 

                     8 - Os regressos ao presente

 

 

    Intriga-nos como a nossa existência pessoal depende de algo tão indefinível e frágil como é o “palácio da memória”. Lucidamente, Santo Agostinho, interroga-se sobre a sua inefável presença:  

   “Nomeio a palavra “memória” e reconheço o que nomeio. Onde o reconheço senão na própria memória? Mas então ela está presente pela sua imagem e não por ela própria?[16] .

 

    Temos mais memória do que pensamos ter, se recordarmos todo o trabalho de Freud e de como “o sono é o guardião do sonho”.
        Qualquer recordação existe num contexto que a presentifica e multiplica. Todavia, cremos saber melhor o valor dos acontecimentos do passado do que do nosso tempo. Só no futuro nos parece ajuizar melhor a direcção e a relevância de muitos acontecimentos de cada agora.

   O tempo cronológico é quantitativamente correcto, em termos de espaço, mas qualitativamente paradoxal. Significa só que, quando falamos em fazer anos, temos como referência as voltas que o planeta Terra já deu em torno do Sol. Mas isso não nos dá a todos a mesma idade mental, fisiológica ou até biológica. À medida em que envelhecemos, somos cada vez mais diferentes uns dos outros. As vivências separam-nos irremediavelmente para um solipsismo trágico.

    O esquecimento deixou uma alegria ao ver uma bela rosa na Primavera, deixou algures, um belo Verão de vestido azul, a ruga na testa dos problemas trágicos, o sorriso amargo da viagem ou afectos perdidos. O nosso rosto diz como foi que nos esquecemos porque não é só um espelho mas um sinal para o Outro.

     O tempo biológico é um dos nossos tempos, mas não é o mais relevante na nossa consciência. Envelhecemos hoje muito mais lentamente do que os nossos antepassados. Na pré-história um homem de vinte anos já era um velho. A mulher de trinta anos, de que falava Balzac (1799-1850), está em plena juventude no século XXI.

    Muitas pessoas, devido ao seu fraco desenvolvimento e carências de diversa ordem, mantêm toda a vida uma idade mental relativamente baixa.

    A experiência que temos dos chamados “povos primitivos” coloca-os ao lado de tantos homens presos do dia a dia, na luta pela sobrevivência, ou em múltiplas alienações de que nem sequer se dão conta. Por outro lado, a “caverna” pode ser excessivamente aliciante e atractiva para que a verdade ou o espírito tenham qualquer capacidade de acordar. O risco do hábito e do conformismo mantém a inércia da história, como que petrificada num longo e contínuo presente, que é o quotidiano na sua aparente monotonia.

    O jogo da vida pode tornar a vida num jogo e quem joga com o tempo perde sempre.

 

 

                      9 - O fantasma do agora

 

 

   Psicologicamente, a consciência do tempo altera-se quando estamos à espera de algum acontecimento, ou quando passamos por um trágico acaso. A dor faz o tempo dilatar-se e a alegria parece que o contrai.
    Ao reflectir sobre isso, comparamos, com a devida prudência, essa percepção, com a “dilatação do tempo” no cosmos e a “sua contracção” que a teoria da relatividade veio desvendar.

    Todo o aluno sabe como é lenta uma aula onde se aborrece, ou qualquer pessoa quando está numa sala de espera. A passagem do tempo parece muito mais veloz numa conversa com um amigo, ao ouvir uma música que agrada, ou num trabalho que nos absorve.

     Podemos viver como que com o tempo suspenso se nos empenhamos seriamente numa tarefa criadora, ou num afã de poupar tempo que paradoxalmente parece acelerar
.   Com a ajuda da matemática e numa proporcionalidade simples, podemos verificar que as crianças vivem mais tempo com os pais do que os pais com elas. Um minuto para três anos e o mesmo tempo para trinta tem uma diferença notória.
    Basta pensar no que representa para uma criança pequena ficar alguns minutos sozinha. Quando o adulto regressa, a criança pode estar em prantos e sentir-se abandonada. Isso corresponde a uma percepção que ela sente mas que ao adulto é bem diferente.

    Quem não se recorda do longo tempo que era um dia, uma semana, depois um mês e depois um ano?

     As crianças e jovens permanecem cada vez mais num espaço de tempo em estado de infantilização ou de “moratória social”. A temporalidade da aprendizagem é cada vez mais longa e, por isso, necessariamente, o estatuto de adolescente e jovem é bem mais longo e a sua responsabilidade pessoal mais tardia. O ensino terminava bem mais cedo e a vida prática iniciava-se logo. Um casamento aos 10 ou 12 anos era comum. Isto não é uma simples constatação, mas uma realidade social que é vivida na interioridade da nossa subjectividade de seres humanos altamente influenciável pelos grupos.

     Na verdade, estarmos juntos, nunca é uma unidade, pois cada ser humano tem o seu próprio tempo e há sempre como que um muro de temporalidade entre todos nós. A temporalidade das plantas, animais, crianças e velhos é um exemplo de diferenças de duração notórias. A idade de um cão de dois anos e de uma criança da mesma idade não são comuns e menos ainda um idoso de oitenta anos. Que se dirá de uma sequóia
[17]?

   A impressão de que o tempo se torna mais veloz, à medida que envelhecemos, é um fenómeno psicológico e não uma simples ilusão. De novo, a proporcionalidade da matemática demonstra isso mesmo. O nosso tempo biológico acelera-se. Todavia, é quase caricato que o cérebro possa ter uma idade diferente do fígado, outra do coração, e até as pernas, ou o estômago serem uns mais velhos do que os outros. A notória aceleração das mudanças sociais também nos pode iludir.
    Todos estes tempos, relacionados e vividos, estão dentro de um tempo a que chamaríamos global e é o tempo cósmico, que se considera irreversível como uma flecha e, nessa escala, tudo se conta por biliões e triliões de anos-luz. Entre a pessoa que está perto de nós há um espaço de milésimos de tempo. Já entre nós e o Sol, o tempo que leva a chegar a sua luz é cerca de oito minutos.

     Ao olhar as estrelas, o mais certo é vermos as que já não existem, pois a velocidade da luz, conforme nos diz Hubert Reeves, faz com que só vejamos sempre o passado.

 

 

                          10 - A ficção da realidade       

 

                   

     Ficamos perplexos face a esta estranha descoberta de que estamos sempre bem mais no passado do que no presente. É como se a máscara do tempo caísse e nada estivesse por trás dela. Tudo é uma ilusão ou construção que pretende abrigar o ser humano da precariedade em que vive. Precisamos de certezas para enfrentar a responsabilidade que a realidade nos apresenta. Os relógios dão segurança, oferecem tempo, oferecem minutos, horas… O coelho, que corre pela floresta e grita que está atrasado[18], é um símbolo da nossa corrida contra nós próprios.
   Para que corremos tanto? Não chegamos nunca a lugar nenhum se não soubermos primeiro onde queremos ir. E queremos mesmo ir? Não haverá erro no caminho que se escolheu?

    Interrogamo-nos sobre a ficção da realidade que a ciência cria, mesmo nas ciências: “Segundo a física nova, nós sonhamos o mundo. Sonhamo-lo como qualquer coisa de durável, de misterioso, de visível, de omnipresente no espaço e de estável no tempo
[19].
    O sonho é uma das mais estranhas dimensões do tempo. Sonhar acordado é um estado transitório entre a lucidez e a realidade. Aí, teremos o imaginário e fragmentos de futuros, aspirações, fugas do real. A poesia pode ser esse micro cosmos em que se transmuda o presente, numa atemporalidade tão petrificada como a de rever rostos em velhas fotografias antigas que escondem uma história enigmática que se prende à nossa.
Surpreender a unidade da matéria e do espírito é uma revelação para todos, que as palavras de Bachelard nos oferecem:

 

    “O universo revela-se permeável a todo o tipo de meditações, prestes a adoptar o mais solitário pensamento (…) Assim acreditamos que antes da grandes metafísicas sintéticas, sinfónicas, deveriam aparecer estudos elementares, onde o deslumbramento do eu e as maravilhas do mundo seriam surpreendidas na sua mais estreita correlação[20].   

 

   Quando recorremos à infância ou à poesia para falar do tempo, mostramos a fragilidade de toda a construção racional e o pobre uso da lógica. As metáforas serão sempre um meio de esconder a ignorância e não de a afastar.
   Somos feitos de tempo e a memória é que nos permite um referencial com o Mundo, com os outros e as coisas. Mas a memória também é tempo. Apenas nos permite reinventar muitos passados e imaginar futuros. Afinal nunca recordamos factos, mas a recordação, da recordação deles. A dimensão forte do tempo é a reinvenção do passado.

    Socialmente, o tempo é um longo presente que se estende anonimamente sobre as subjectividades de cada um, numa ilusão de continuidade sem passado nem futuro. Quebra-se o presente com festas e rituais, para negar a conformidade e rotina, mas inventamos uma falsa circularidade de um eterno retorno, tal como as estações do ano ou o movimento da Terra não fossem muito mais do que aparentes repetições.

    Ninguém conhece os segredos do tempo na sua complexidade e multiplicidade. Pensámos, durante tantos séculos, em cosmogonias, cosmologias, em tempo/espaços absolutos e essas noções desabaram há tão pouco na ciência que, para o senso comum, ainda não se alterou tais concepções.

   Por muito que reflictamos sobre o tema, as questões não se resolvem mas multiplicam-se porque demonstram mais a nossa ignorância do que a nossa sabedoria. É uma forma de nos tornarmos humildes diante do agora tão ilusório, mas orgulhosos da herança da filosofia. Antes de se cindir este reduto, estava o teólogo, o cientista, o filósofo e até o santo ou o profeta. Quanto ao devir ou futuro, apenas sabemos que os rumos da ciência não são previsíveis.

    Mas descobrimos muitos segredos e enigmas. Deixamos para trás muitas ilusões, mitos, crenças e arriscamo-nos a já vivermos outros invisíveis e bem perto de nós. A nossa existência desafia tantas probabilidades que vai muito para além da ordem do milagre
[21]. Somos uma impossibilidade e um paradoxo!
    Resta saber o sentido que damos ao nosso pequeno grande milagre. Só na temporalidade verdadeiramente humana tornamos ético o Tempo. Somos, apesar de tudo, os senhores do Tempo.

    Deixamos as interrogações: Até onde vai o nosso reflexo racional do cosmos se partimos da razão e a ela voltámos? É o espelhismo e a imagem, ou um meta-realismo da superação do homem de si mesmo pelo Bem?


    “Quando contemplarmos o futuro da mente no Universo, teremos esgotado as fontes da nossa insignificante ciência humana. Neste ponto termina a ciência e começa a teologia
[22]”.

 

                         

                     11 - A temporalidade e a ética

 

 

 

      A tentação de associar ciência e axiologia é de todos os tempos. Monod colocou um tabu neste tema que dificilmente se pode esquecer. “A ética não pode misturar-se com a ciência” e o cientista Freeman Dyson, citando-o[23], pretende transgredir a lei.

    A consciência moral é um sinal da nossa humanidade. Mesmo supondo-a condicionada pela supra-estrutura, os afectos e o dever lutam em função do que chamamos liberdade. Em vez de negar a ética, a temporalidade coloca diante de nós a interrogação total acerca do que somos. O que se aplica como valia é a ética.

    Os outros valores surgem a partir daqui. Gastar tempo é irremediável. Perder tempo para ganhar a eternidade tem ecos de uma frase bíblica que toma um sentido novo. Todos temos a percepção do que seja tempo perdido. Acompanha-a uma intuição de negatividade, angústia e alienação. Pode assumir também transcendência porque algo de nós ultrapassa a duração e transmuda-se positivamente.

   Se bem que os animais possuam consciência da duração, esta não se reveste de valor ético pois só no ser humano a consciência tem profundidade que capta o tempo como o mais precioso valor: a vida que é a temporalidade. Embora óbvio, não se pensa tanto nisso como deveríamos.

    Os jovens sentem na pele o gasto da sua temporalidade, como fuga ética da realidade e os velhos, quando só então descobrem a perda da vida vã e irrecuperável! Quantas possibilidades não tiveram de escolher. Entre todos os possíveis haveria um com uma dimensão maior, que entraria na intemporalidade na opção da missão.

   Na transcendência ou positividade, a dimensão ética da temporalidade gasta revela mérito que dá plenitude e ultrapassa o tempo. Por isso, se diz serem atemporais tantos feitos humanos que “da lei da morte se libertaram”.   Não se compara o eterno ao tempo, pois ultrapassa o cosmos e a nossa linguagem.

   Sendo nós, os únicos seres temporais que têm a noção mais profunda de si captam a mais intensa consciência da temporalidade e dão-lhe sentido, mesmo que seja absurdo!    Essa consciência do “nosso” devir é a forma mais perfeita que a duração pode tornar. Possibilita a realização ética.

     Como heterónimo dos elementos do universo, só no tempo, o homem realiza e afirma o Ser. Em nós o Ser se revela como o nosso ser que se realiza e ganha ou se destrói e perde. O sentimento de uma traição a alguém pode ser terrível, mas pode ser perdoada. Não é possível um perdão a nós próprios sem um terrível sofrimento de perda. A maior perda, a nossa falha!

      Vivemos sob o peso do axioma do tempo físico, mas realizamos a dedução sob a condição ética. 

     A ética é a luz interior do tempo que nos abre uma fresta para o Eterno. O que nos é dado de temporalidade não é possível de ultrapassar, mas o modo como o nosso devir sucede é da nossa responsabilidade. A percepção do significado de ganhar ou perder no tempo é unicamente do homem. 

      Na sua mais simples manifestação, o ser humano pode notar se está gastar, por dissipação, ou a valorizar a sua temporalidade ou a de outrem. É como uma luz que qualquer reflexão atenta pode atingir. A escolha, inserida na temporalidade, é uma das mais difíceis ou das mais conformistas e alienantes que é dada ao ser humano. Face a um futuro vazio e distante, joga-se toda a temporalidade na escolha da vocação.

   Se esta significa chamamento, a traição a esse chamamento é como que uma negação ao Ser. Alguns são chamados muitas vezes, mas todos pelo menos uma vez ouviram como que “a voz do tempo” para a sua realização. Desobedecer a essa missão é a maior traição do homem a si mesmo. A perda irreparável do tempo conduz à “náusea”, à angústia, ao lento aniquilamento e ao vazio. Não é sem razão que Lipovetsky se refere à “era do vazioem que Cronos devora – consome – os seus filhos.

 

   Sócrates dizia obedecer ao seu “Daimon”[24] e prestava atenção aos seus conselhos. Sócrates, como muitos outros, não se traiu a si mesmo como temporalidade. Diante do Tribunal afirma que seguiu esse guia. Morreu por doação à Lei e à Polis. Perdeu pouco tempo, como teria dito, pois era já idoso. Porém na temporalidade que perdeu, ganhou a eternidade.

     Já na degradação ética do tempo, a temporalidade é transformada em matéria e petrifica. A “mulher de Loth” é um aviso sério. O ser temporal corre sempre o risco de se perder porque o peso do passado aumenta até ao esvaziamento total. Nada resta de si como vitória sobre a morte inevitável. Apenas a matéria, inerte e despojada, ali jaz.

    Quando o devir é usado para espiritualizar a matéria transcende-se a si mesmo. Essa é a missão que só o humano pode assumir. A criação e a doação são provas evidentes disso. A acção valoriza o ser temporal ou degrada-o no seu próprio espírito que se esvazia e embrutece. É compreensível que o poeta Heine pensasse do seu cocheiro que este tinha menos alma do que o seu cavalo. 

      Há uma possibilidade de espreitar o Eterno, mesmo aos mais rudes e humildes seres humanos entregues às suas tarefas. Heine criticava a rudeza e brutalidade do cocheiro, não a sua condição humana servil. Ao elevar o cavalo, admirava-lhe a sensibilidade, a inteligência e colocava-o acima de um ser humano. Antes de ser um cocheiro como era, aquele homem tinha escolhido muitas vezes. Negara-se e degradara-se. Perdera-se no tempo. Entre a matéria e o ser vivo, o cavalo tem inteligência, sagacidade e pode ser sensível. Pode ser uma temporalidade realizada por se manter nobre e fiel a si mesmo.

    O ser humano, ou se aprofunda, ou se degrada e desespera até nada sobreviver do que mais precioso poderia existir a realização fora do tempo.    Tal aptidão revela-se em toda a dádiva do nosso tempo aos outros e ao mundo. Está como que fora das leis da lógica utilitarista e da natureza. Na sociedade, onde impera "time is money", surge como uma fenda na muralha.

    Há uma centelha de eternidade na criação como na doação. É um intervalo no passar que nenhuma palavra nem conceito definem com rigor.

     Na criação, ou na doação ao Outro, há um universo que, na sua humanidade, tem um selo de eternidade. Sair do tempo, é a nossa possibilidade de ser eterno, porque é de tal forma elevado que a nós mesmos nos ultrapassamos. A nossa duração desaparece na pura alegria, na doação de nós próprios, no gesto de compaixão ou de criação. Felicidade, êxtase ou fuga embriagadora é um risco de petrificação. O nosso valor é a vida cujas portas são o tempo. A nossa missão é descobrir a porta para a eternidade pela dimensão ética que realiza o Bem.
   De outro modo, o cerne do humano regride a uma dimensão de animalidade que possui em vez de, parafraseando Kant, ousar ser pessoa livre. A animalidade, o egoísmo, a dissolução do tempo, são a negatividade do que de mais elevado a natureza concedeu ao homem. Escolher a sua própria natureza que se realiza na temporalidade.

     O sonho de gozar a vida é de todas as épocas e de muitos remorsos. Porque houve a mais terrível traição do homem, trair-se a si mesmo. Teve um ideal, um sonho, teve um intenso desejo de realização e, voltou as costas ao sonho e conformou-se e caiu. Aí desaparece porque é no anonimato de uma alienação que sofre. O uso dos hábitos e tradições é a forma de perder a sua individualidade. Seguindo um pouco Kierkegaard, “o homem da moral do geral” vende o seu tempo pelo preço social exterior. Só assim a vida é mais fácil. Mas a consciência moral leva uma pessoa a lançar-se á água para socorrer um desconhecido, a arriscar a vida a salvar desgraçados, doentes, a doar-se aos outros em obras que mostram até onde pode ir a revelação da criação.

     A maior parte de nós não apreende o valor ético do tempo. Se existe pecado, preferimos o conceito de queda, essa é a do homem que se nega ou se trai a si mesmo. O remorso e a dor do tempo perdido condenam-no e ele sabe. A ética esteve lá como um bloco de mármore que não soubemos modelar. Depois teremos só o mármore e a escolha perdida.

 

                             12 -Tudo ou nada 

 

 

     Diante da descoberta incontornável de não poder parar no tempo, só resta ao ser humano descer ou subir. Se escolher a subida, não se exima ao sofrimento, ao desespero, nem a um constante apelo para uma descida que é sedutoramente mais fácil.
     A vida é um risco constante e gostaríamos de viver como se navegássemos num tranquilo rio. Porém, vieram até nós, espreitam o universo pelos nossos olhos, todos os nossos antepassados e a sua herança de lutas, vitórias e derrotas que nos trouxeram até aqui. Desdenhar tal legado é uma traição ética, como se desertássemos de uma marcha colectiva de lutadores que, de tantos modos construíram o que somos. A dimensão ética da temporalidade da vida é uma exigência do Homo habilis ao Homo spiritualis que desperta penosa e lentamente.

    A ciência abre muitas portas, altera radicalmente a existência de milhões de seres humanos, mas nunca responderá às questões fundamentais, que até o próprio cientista levanta a si mesmo:

    Qual o sentido do universo? Mergulharemos no desespero da aniquilação e desaparição, até do próprio cosmos? Por que insistem os seres humanos em perguntar sempre?

    Nada será tão importante como descobrir que partilhamos de uma épica aventura. Podemos ser D. Quixote, ir aos Infernos com Dante, rir com Voltaire, sonhar um mundo louco com Breton, ou espreitar o futuro com Teilhard de Chardin. A escolha é dever, pode ser querer, não se pode é negar que se escolhe sem nos negarmos a nós mesmos. Tal como podemos escolher uma teoria do universo fechado ou do universo aberto, transformamo-nos por nossa vontade ou deixamos que o tempo nos apague.
   Nada nos protege de nós mesmos. Nem da nossa culpa, nem do nosso remorso ou medo. Há um momento em que todos estamos sós. Sem respostas para nenhuma questão. Podemos socorrermo-nos com uma multidão de lembranças, com a posse de objectos, com as ideias dos outros. Verificaremos como isso é imperfeito e gastador do tempo em vão. Mas podemos assumir-nos na duração, com um valor inigualável em todo o cosmos, a ética que nos permite ter asas e ver com o espírito os milhões de seres que nos acompanham.

    O que era pura quantidade transforma-se e surge em pura qualidade. É a consciência do próprio tempo que em nós se realiza. Não podemos alcançar o Bem na sua esplendorosa Beleza. Todavia a temporalidade ética é a que eleva, espiritualiza todo o labor, do mais modesto ao mais grandioso. Uma vida criada na ética não tem axiomas, nem tabela de objectivos, nem regras complexas. Torna o ser humano mais do que era, mas não indica como se deve tornar. Há tantos caminhos por onde a ética pode passar e tantos abismos onde pode cair.

    Teremos de aceitar a coragem do homem perdido, do místico, do jogador, ou do paleontólogo e sábio visionário, Teilhard de Chardin, que nos oferecem: Ou tudo ou nada.

    Toda a esperança só pode estar no futuro e todo o pessimismo no passado. O modo como gastamos o nosso tempo será o nosso contributo para o Bem. Cronos é um deus cruel e nós somos seus filhos. Podemos ser cruéis como ele, ou matar o tempo, vivendo uma sobrevida que nos permita ir para além dele, e acordar deste sono em que dormitamos na vida. Então, despertaremos a consciência ética para a temporalidade e aceitaremos as consequências do que descobrirmos. A vida moral virá depois e trará ensinamentos e experiências, manuais e trabalhos para casa.

    Em casa, no dia-a-dia convencional, a ética e a moral conversarão e decidirão sobre o tempo. Quando a temporalidade tiver conhecimento da sua consciência ética, não teremos certezas nenhumas, apenas uma serenidade e disponibilidade já sem limites.

   É o salto para espreitar a eternidade porque não nos perdemos no tempo ma sim, este suspende-se infinitamente e desaparece.

    

 


 

   NOTAS:

 

 

 1] KANT, Critique de la Raison Pure,  Nouvelle Édition avec préface de Serrus, PUF, Paris, 1950, p.74

[2] PEREIRA, Ricardo Araújo, A Boca do Inferno, Edição Tinta da China, 12º, 2007, contracapa.

[3] SANTO AGOSTINHO,  Confissões, livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 12ª , 1981, p.304.

[4] HOLTON, GERALT, A Cultura Científica e os seus Inimigos – O Legado de Einstein, Edição Gradiva, Colecção Ciência Aberta, nº. 100, Lisboa, 1998.pp, 150-169.

[5] REEVES, HUBERT, Um Pouco Mais de Azul, Edição Gradiva, colecção Ciência Aberta, n. 2,
É uma tradição dividir o tempo em fatias iguais. Devemos, pois, medir a passagem do tempo contando as fatias. Isto faz-se utilizando "relógios". Um pêndulo, por exemplo, é um relógio. etc.  (…) A Terra também é um relógio. Conta-se um ano cada vez que ela dá a volta em redor do Sol.

[6] SANTO AGOSTINHO, op.cit. pp. 247-256.

[7] HOLTON, GERALT, op. cit.

[7] HOLTON, GERALT, op. cit.

[8] HOLTON, GERALT, op. cit. pp. 152-156.

[9] PRIGOGINA, ILYA, A Redescoberta do Tempo, Conferência Marc Bloch  Sorbonne, Paris, 1987.

[10] PAGELS, HEINZ, Simetria Perfeita, Edição Gradiva, Colecção Ciência Aberta, nº.38, Lisboa, 1990, pp 422.

[11]
GUITTON, JEAN, Deus e a Ciência, Editorial Presença, Ciência Aberta, nº. 14, Diálogos com os irmãos e cientistas, Guichka e Igor BOGDANOV. P.28,

[12] Idem, pp. 9-11.

[13] PRIGOGINE, ILYA, O Fim das Certezas, Edição Gradiva, colecção Ciência Aberta, n.  pp152-163.

[14] GUITTON, “. A gravidade levanta uma barreira inexpugnável ante qualquer investigação: mais além  do Muro de Planck é o mistério total. 1. B.-10 segundos. É o Tempo de Planck, segundo a formosa expressão dos físicos. E também o limite último dos nossos conhecimentos e o fim da nossa viagem até às origens. Detrás de este muro, esconde-se ainda uma realidade inimaginável”.

[15] ROCHA PEREIRA, Maria Helena, A Hélade, Antologia da Cultura Grega, Institutos de Estudos Clássicos, 2ª. Edição, Coimbra, 1990, Parménides, Prelúdio, pps 128-129.

[16] SANTO AGOSTINHO, op.cit. p.259

[17] Uma sequóia pode viver por milénios, e ao final deste tempo ultrapassar os 100 metros de altura, e algumas dezenas de circunferência à altura do peito. Ela chega a uma altura superior a da Sequóia gigante.. Wikipédia livre. Data .08.05.12.

[18] CARROLL, LEWIS, pseudónimo do matemático inglês, Charles Lutwidge Dodgson, Alice no Pais das Maravilhas.

[19] GUITTON, JEAN, op.cit. p. 130.

[20] BACHELARD, GASTON, O Direito de Sonhar, Editora Difel,  São Paulo, 2ª Edição, 1986, pp.192-193

[21] KONDRATOV, A, ABC da Cibernética, Editorial Presença, Lda, Colecção Perspectiva, nº. 30, pp, 14-16, com base no “milagre” do físico Jeans,

[22] FREEMAN DYSON, op. cit. p.130.

23] FREEMAN DYSON, Infinito em todas as Direcções, Ciência Aberta, nº 44, Gradiva, Lisboa, l990, p.126.   ( Nota: O título desta obra é de Emil Wiechert sec.XVIII.)

[24] Termo grego com vários sentidos. No Sócrates platónico, Daimon toma o sentido de guia ou voz interior, conselheiro. De qualquer modo é sempre benéfico e evita erros e perigos.