" O nosso Mundo mágico"
A patologia dos "números".
© Lúcia Costa Melo Simas .( 2008 )
Regresso das Máscaras
[ Escultura em Jardim ( Guimaráes, Verão, 2007) ]
© Levi Malho - Imagem digital
Este cartãozinho do cidadão veio mostrar que, sem números. valemos cada vez menos! Há números a mais ou pessoas a menos, é só uma questão de tempo e de estatística. Em breve, diremos alegremente a um amigo:
---- Olá 37012 como vai o 45021 e seu estimado filho 167231?
Se a linguagem das ciências é o número, serve na perfeição a mágicos e astrólogos, bruxos e até aos que se dizem professores (quem lhes dará diploma?) e entram-nos pela casa dentro, quer pelo jornal, televisão e até panfletos.
Sabemos que nada melhor para alegrar uma manhã do que um trevo de quatro folhas. Daí a comprar um bilhete de lotaria e a ler o horóscopo é questão de rotina.
Temos os sete anões, os sete pecados, as sete maravilhas, os três mosqueteiros, que afinal são quatro, os doze signos, os doze apóstolos, a meia dúzia de ovos a contrariar teimosamente o decimal, sete anos de azar por quebrar um espelho, e o uso moderado de contar pelos dedos, coisa que era de extrema elegância em séculos idos.
Foram tão subtis as revoluções da matemática e, nem por isso, não deixaram de transformar por completo a nossa vida. De Newton a Einstein o mundo é radicalmente outro. Para Michael Guillen foram cinco as equações que mudaram o mundo. Título até de um livro seu. Tão entusiasmado é pela matemática que a considera uma “linguagem deliciosamente peculiar” similar à beleza de um poema. Também Álvaro de Campos admirava o binómio de Newton, ao ponto de escrever que “era tão belo como a Vénus de Milo, só que há muito menos gente a dar por isso. …óóóó, óóóóóó, óóó, óóóóóóó, óóóóóóóóó “ O que mais admiro neste poema é a universalidade e o riso dos óóóóóós. E ainda dizem que os portugueses são tristes!
É preciso não saber nada das anedotas dos políticos que circulam por aí. Só anedotas sobre Maomé são politicamente incorrectas, com os muçulmanos não se brinca, que eles espreitam em cada esquina. Explodem logo e mandam-nos para o Inferno enquanto vão direitinhos para um céu de donzelas e oásis.
Apesar de pouco divulgado, mais de cem mil pessoas em vinte e dois países usam uma língua artificial, o esperanto, e que foi inventada por um polaco Zamenhof no século XIX. Para que nos havemos de preocupar com o Acordo Ortográfico que é elástico e tão morto como a língua é viva. Olhem bem para os escritos nas paredes e verão como a língua evolui.
Se “a minha pátria é a língua portuguesa”, citando de novo Pessoa, sem heterónimo, se nos juntarmos todos a falar matematicamente e a pensar do mesmo jeito, poderemos dizer: A minha pátria são os números. É um excelente modo de comunicar.
Assim o fazem chineses com americanos, estes com colombianos, depois com os espanhóis, com os russo e assim, por causa de Newton, é que o homem chegou à Lua. Universalidade e globalização! Sem Newton, e a sua lendária maçã, os engenheiros da NASA não atinariam com o tripla gravitação dos objectos, a Terra, a Lua e a nave espacial e os seus complexos problemas levantados. Se – escreve Guillen – Newton vivesse, fazia uma festa. “Foi um momento histórico, tornado possível por uma equação histórica.” Um século antes, o visionário Júlio Verne fazia chegar os seus três heróis à Lua, partindo da Florida e chegando ao Mar da Tranquilidade tal quase como aconteceu.
Isso não nos admira nada. Quem tiver problemas de números, de saúde, de amor e de coisas que não sabe explicar, há muita gente que ajuda. Basta crer e pagar. Também a inteligente Rhonda Byme descobriu um segredo para vender. O livro vende-se “como milho” diria um açoreano. Não interessam os efeitos perversos. Se não resulta, e não deve resultar muita vez, a pessoa que acredita, pensará que a culpa é sua e tudo o que de mau lhe acontece é porque não sabe usar a lei da atracção universal ao se serviço, como a lâmpada de Aladino que agora aparece com o Cristiano Ronaldo e com desejos «no coments» .
A matemática teve sempre duas vertentes. Galileu escrevia já que havia dois modos de olhar para o céu. A matemática diz-nos como é o céu e a Bíblia como se pode ir para lá.
Por nós, nem arriscamos um ou outro caso. Mas a ciência tornou-se furiosamente irreligiosa e a Igreja inconformadamente não científica.
Muito trabalho agora para os crentes terem fé e separar o trigo do joio. O Deus dos matemáticos e dos filósofos não é o Deus dos cristãos, era assim que falava Pascal, o filósofo da aposta na fé. Neste deslumbrante e cruel mundo, só uma fé num Deus que seja Amor pode resultar. Falta descobrir mesmo o que é o Amor se temos à venda tantas falsificações, mentiras e confusões do que é Amar.
A prova da fé, não se dá bem com bruxos, superstições e rezas com cinco benzeduras de uma pena de galinha preta. Chegámos à Lua, mas não gostamos do treze, lemos o horóscopo e consultamos adivinhos, cartomantes e afins. Afinal, nunca se sabe, não vá o Diabo tecê-las.
- © Lúcia Costa Melo Simas (Texto) - Regressar a " Os "Trabalhos e Dias" "
- © Colaboração na concepção da página - Levi Malho.
- Actualizado em 22.04.2008
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