"  Memórias de Alice - IV "

  •  No vagão da "Terceira Classe"

 

    ©  Lúcia Costa Melo Simas ( 2013 )

 

A admirável Persistência

 [ Rochas na praia com bivalves. Praia de Lavadores. Vila Nova de Gaia. 2007  ]

 © Levi Malho.

 


 

 

 

Figura 1 - Em 1900. (  In "Infopédia )

 

Há uma infinidade de formas de olhar para a Grécia ou Roma. O tempo dedicado ao ócio, à palestra era apanágio do homem livre, tal como nós idealisamos qualquer ateniense e mais ainda Sócrates ou Aristóteles. O tempo do romano que abandonava a charrua pela espada ou pelo cargo no senado foi curto e pertence à lenda inspiradora. Jamais um senhor feudal conheceu o trabalho, mas sim os torneiros, a guerra ou a galantaria.
    Só os burgueses vieram trazer outra ordem ao social e organizar as instituições sob o férreo garante económico. A produção tem de aumentar sempre, logo é preciso que alguém trabalhe cada vez mais. A economia aumenta de importância a cada instante. O Capital é um ídolo vivo a quem quase todos prestam culto. Passaram mais de dois séculos o capitalismo triunfa e, curiosamente, "o trabalho morreu". [ 1 ] O cadáver do desemprego está aí, por todo o lado, invisível, mas o seu odor espalha-se e invade megametrópoles, cidades pequenas e até despovoa os campos.
    Nos círculos em que se transformaram os lares, famílias e a sua privacidade, apesar de já ser pálida a sua existência, vive a mulher, com ou sem emprego. Aí, o ídolo sem rosto do sistema permite um intervalo cada vez mais curto. Ter um emprego exige um crescente sacrifício, de obediência, de mobilidade e principalmente de tempo. Depois de nos transformarem em capital investido, o regime exige o sacrifício até à morte, que não é mais do que a reabsorção racional do capital. O salário é a própria vida que se esvazia e esgota.
     "Não precisar de trabalhar", no que concerne à mulher, atravessou também esse longo caminho carregado de preconceitos e, certamente não da forma mais confortável. Nos círculos institucionalizados, as pessoas não se relacionam, cumprem funções. A racionalidade chegou ao limite de não haver sequer revoltas semelhantes às que aconteceram contra a industrialização. Não se reacenderam revoltas, porque como bem se sabe só há revolta onde já um dos lados não tem nada a perder. Nos inícios até receberam aplausos e a substituição do tempo do trabalho por menos horas tornou-se num capital abstrato e só o salário dava racionalidade. Todavia é à volta do trabalho que existências inteiras rodam pois os funcionários, para lá chegarem investiram todas as suas prioridades para terem um emprego e esse capital vital é esvaziado de sentido ao longo no tempo no posto que ocupam.
   
        Será que através do racional se consegue matar o social? A racionalidade, absoluta sem contradições nem conflitos, é a perda da condição humana, a neutralidade assexuada de um monstro institucionalizado na sua suprema forma que pode revelar-se fatal para qualquer pessoa transformada em indivíduo.

 

 

Figura 2 - Quando a comunicação é a própria mensagem que resta do humano?

 

 

    A estrutura mais simples e a instituição mais antiga é a Família desta derivou a cidade. Os deuses, o sacerdócio, a propriedade, os direitos e deveres passaram do subjetivo para o domínio do objetivo. Fustel de Coulanges foi um autor de enorme lucidez com a sua obra "A Cidade Antiga" em que a família é vista nos seus primórdios como uma sociedade completa de um número elevado de seres humanos visto a clientela se integrar nesse grande grupo. A sacralidade religiosa é que tornava a família unida. [ 2 ]
    Estes milhares de pequenos grupos viviam isolados, (…) durante uma longa sequência de séculos." O culto era o que os unia e obrigava o "Pater Familias" a defender, incluindo a vasta clientela cujos vínculos eram hereditários. A "Mater familias" perdia para sempre a antiga Gens e os seus deuses agora eram outros que como "Mater" tinha de aceitar.

 

Figura 3 - A Família romana é a estrutura da Cidade Antiga.

O que era subjetivo e separado objetivou-se de forma clara na cidade que tornou seus os deuses, o direito, a clientela, noções de continuidade no tempo e as virtudes da família seriam as da cidade

 

    Mas podia ser honrada e dignificada no seu sacerdócio pois substitua o marido na sua ausência, celebrava o culto dos mortos, administrava as propriedades. O caso da sacralidade de tudo é tão forte que o local em que se passava de uma propriedade e outra, recebeu o nome do Deus Termo. Assim trata-se de uma divindade protetora e não de um qualquer local.

 

Figura 4 - Hebe, a deusa da juventude.

 Tal como ela a Antiguidade é sempre diferente porque é sempre nova.

 

    Assim se vê que a sacralidade está implícita na lei e a racionalidade da lei tem um fundamento que é profundamente religioso e remonta ao culto dos antepassados.
    A mulher na Grécia, mesmo sendo senhora, fiava e tecia, tocava lira ou cantava. Da sua labuta diária não se fala porque na época a medição do tempo com toda a sua inflexibilidade e dureza não existia, menos ainda se refere as atividades das patrícias romanas, para além de maus costumes e da busca de jóias, vestuário, perfumes, óleos e mil adornos que lhes realçassem a sua possível beleza. Hoje são mais recordadas pelos seus maus costumes do que por virtudes.
    A época medieval trouxe novos costumes e ritmos de vida. Falar do trabalho na época medieval, comparando-o com o de hoje, é não entender que este não era um emprego ou uma atividade específica. Os labores realizavam-se, é certo, mas dentro de parâmetros perfeitamente diferentes dos nossos. O senhor feudal tinha uma elevada religiosidade e foi-se transformando num gentil cavaleiro com os escudeiros pajens, falcoeiros e seus servos. A cavalaria torna-se um estilo de vida e um ideal de coragem, generosidade, sem nos esquecermos de nos referirmos a uma época de crueldade e heroísmo. Os homens medievais tinham uma emoção à flor da pele, numa mais veemente homilia, em que se exortava o perdão, choravam copiosamente de arrependidos, não se diferenciando nada de uma mulher, pois a expressão dos sentimentos, tanto de cólera como de arrependimento manifestava-se diante de todos.
    A espada defendia os fracos, órfãos e viúvas. A lealdade e o idealismo medievais são bem patentes nas obras que liam ou transformavam em poemas. Contrariando o que se pode pensar, pobreza da maior parte das aldeias medievais não era tão sórdida quanto as lixeiras e os bairros de lata que temos semeado pelo mundo inteiro.
    As mulheres atingiam alguma cultura e estudo, que o direito romano lhes foi diminuindo e sujeitando-as a maiores constrangimentos. Algumas senhoras dominavam as artes e letras e uma das mais célebres foi Leonor de Aquitânia, esposa, mãe e avó de reis.
    A poesia provençal inicia-se na sua corte e talvez o ideal feminino do amor cortês. Rebelde e inconformista, defendeu os direitos da mulher contra os excessos dos senhores. Várias figuras femininas revelaram dotes e capacidades que a própria religiosidade da época lhe garantia. A abadessa Heloísa, do mosteiro do Paráclito, em meados do século XII: recebia o dízimo de uma vinha, tinha direito a foros sobre feno ou trigo, e explorava uma granja. Era ainda ela que ensinava grego e hebraico às monjas, o que vem mostrar o nível de instrução das religiosas deste tempo, que às vezes rivalizavam com os monges mais letrados.
    Pena faltar estudos mais sérios sobre o tema. É surpreendente ainda notar que a Enciclopédia mais conhecida no século XII se deve a uma mulher, a abadessa Herrade de Landsberg. Tem o título " Jardim das Delícias" [ 3 ] e fornece as informações mais seguras sobre as técnicas do seu tempo . As obras de Santa Hildegarda e de Gertrudes de Helfta, no século XIII, que curiosamente se refere a ter passado do estado de "romancista" ao de "teóloga", pois foi com esse tipo de escrita que teve grande êxito na propaganda da fé, mostrando raros conhecimentos.

 

Figura 5 - Estampa antiga com oração a Santa Gertrudes de Helfta

 

 

    O Renascimento trouxe novas riquezas e os grandes mecenas dos quais muito herdamos. As belas pinturas que se guardam nos museus, referem-se a famílias cujo poder económico se revela claramente nas mulheres. As figuras femininas tomam um sentido marcado pela beleza desse mesmo estilo sereno que se liga à natureza, agora redescoberta. Através destes séculos o trabalho, no sentido do emprego, não aparece como acontece com as sucessivas vagas da industrialização. As relações eram entre pessoas com vínculos pessoais. As coisas nunca se confundiam com pessoas e os seus valores não se comparavam. Lembre-se a vida de Camões, (1524(?)-1580) um homem que viveu os tempos gloriosos da chegada à Índia e regressa na decadência do antigo regime, para ver que nada se ajusta à nova sociedade "Numa mão a pena, na outra a espada." Apenas o poeta tinha a palavra e a perpetuação dos feitos. Aqui, a palavra é o único acesso à realidade, sem ela nada existiria
    A partir do século XVIII, com a revolução industrial, na Inglaterra, e depois o capitalismo comercial crescente aparece o fidalgo mercantilista. A hierarquia das classes está ainda bem organizada. O soldo de um militar é bem magro, mesmo o de estirpe nobre e a nossa nobreza apropria-se do comércio mostram a transição para novos tempos. A definição do mercantilismo constitui uma tarefa complicada. Entretanto, o historiador Fernand Braudel, esclarece que "
mesmo que não seja boa, esse rótulo reagrupa comodamente uma série de atos e de atitudes, de projetos, de ideias, de experiências que marcam, entre o século XV e o XVIII, a primeira afirmação do Estado Moderno em relação aos problemas concretos que ele tinha que enfrentar". [ 4 ]
    Ao Iluminismo seguiu-se, em termos políticos e sociais, a revolução francesa.
"Sapere aude!"
  
 Tem coragem para fazer uso da tua própria razão! A saída da menoridade de que fala Kant colocou-o no cerne do Iluminismo. Mas qual iluminismo, se apareceram tantos?
A razão crítica, revoltada por tanto obedecer deve ser universalmente usada na continuação de Descartes. Kant partia da crença de uma razão que levava o entendimento a organizar as ideias de um modo universal. Nada disto é discutível mas a liberdade era e teria se ser racional depois de aprender as premissas da razão kantiana. Mas do "Sapere Aude" restou a ousadia de pensar sem mais obedecer, como se Descartes não tivesse avisado os riscos que cada um corria ao julgar-se bem munido de bom senso.
    A contradição entre o lema: Liberdade, Igualdade e Fraternidade e o culto à deusa Razão parece não ser percebida. Com a alegria da queda do Antigo Regime a liberdade não era mais do que a "a causalidade segundo leis imutáveis". É bem acertado o epíteto que deram a Kant ao chamá-lo o "quebra tudo"

 

Figura 6 - A luz da Razão ilumina as mentes .

O Iluminismo ou Esclarecimento "As luzes" tem a crença da universalidade da razão

Mas os princípios da razão apenas esclarecem o entendimento.

 

 

    Foi um passo em falso colocar tal lema em prática, sob a égide da Razão. Não se verificou que poucos entenderiam o que era afinal ser livre, [ 5 ] com autonomia igual para todos, a igualdade um erro da observação da própria natureza e em que Kant colaborou com Rousseau. Já a fraternidade não passou de uma ilusão da cultura cristã que sendo a mais humana das três noções nunca se tentou pôr em prática.
    . Os filósofos foram sempre extremamente subtis e as massas não lêem nas entrelinhas. A liberdade de um cristão ou de um luterano não são melhores ou piores uma da outra. O uso dos princípios da razão é que é diferem no entendimento e isso é que decerto Kant não desejava. Convencido de ser bem claro a sua crença na universalidade da razão levou-o pensar que também os outros viam o clarão da liberdade racional, tão claro para ele. Sabemos que os filósofos são ingénuos e muitos deles humildes. Vivem, dormem e comem no meio das gentes e acreditam que todos devem ser capazes de os entender.
    Uma Revolução como aquela de 1789 foi tão candente que ainda falta muito para acabar e já se passou mais de um século sobre uma data que mudou a sacralidade social. Na sociedade em que se tentou a liberdade veio a tirania, onde se tentou-se a igualdade deu a ditadura do proletariado e a fraternidade, se prosperou deve ter um reino secreto pois entre nós não a vemos. Quando há revoluções assim, instala-se o caos e surgem as vinganças, os abusos, a corrupção, com todos os riscos de um novo regresso a tiranias ferozes. Em nome da razão todos os crimes se justificavam, pois a lógica nas mãos de um sofista é um florete nas mãos de um espadachim.
    A morte do rei na continuidade histórica não seria mais do que a mudança para outras mãos do direito e da justiça e o direito se fundamentam na transcendência do poder do rei pois temos de considerar que ao contrários de outras pessoas "Le mort saisit le vif" capta a imanência e o poder transcendental do rei. Há uma passagem de um corpo para outro. Apenas existe o representante da estirpe real e o vivo vem substituir com a sua presença a representação de Deus na terra. Daí que o regicídio seja uma ação sacrílega, dentro deste princípio.
    A sociedade sem transcendência surge assim bem mais recente do que se pensa. Mas há sempre uma necessidade do sagrado e aparece a verdade, a justiça e a força da razão e, muitas vezes só força.

 

Figura 7 - Na circularidade, a sombra da pessoa existe num centro tão sombrio e vago que todo o acessório é fulcral e o fulcral desaparece.

 

 

    A Revolução Industrial foi também fruto do racional. A sociedade precisava de organizar novos laços. A possibilidade de produção em larga escala de bens de consumo exige uma nova mentalidade, tanto quanto ao valor do trabalho, como às trocas de produtos. A moda começa a ter um interesse maior pois faz girar a roda da economia. A burguesia criou uma estrutura nova com um lugar na casa que reunisse a família e sob a tutela do marido, a mulher administrasse o que concerne ao bem-estar do lar. O bem-estar burguês é cada vez maior e mais separado do mal-estar dos operários, das suas mulheres e de todas as que se vêem obrigadas a trabalhos pesados, não só no seu lar, mas fora de casa.
    Os prédios ficavam vazios e as crianças barulhentas entregues a si mesmas. A rua tornava-se a continuidade do lar pois a falta de adultos levava a um caos nas ruas dos bairros mais pobres.
    A primeira médica italiana, Maria Montessori (1870-1952) observou o abandono das crianças nas ruas devido aos pais terem de trabalhar. O ruído que provocavam causava confusão nas vizinhanças. Foi daí que nasceram as "Case dei Bambini".

 

Figura 8 - A descoberta da ordem como princípio inato das crianças insere-as facilmente num mundo já organizado que só lhes pede obediência.

 Grande êxito de um método de pedagogia que permitia a habituação infantil ao sistema

 

    Assim se iniciava uma ajuda aos pais assalariados, o que originou vantagens educativas para as crianças forçadas a estarem todo o dia sem a família. Mas há o reverso da medalha. Se Montessori foi uma feminista católica, que teve um êxito enorme com o seu método educativo inovador para a aprendizagem, mostrava que a separação da família estava traçada devido ao trabalho feminino.
    Com isto sofrem "
as crianças que deixam de se misturada aos adultos e de aprender a vida diretamente. A criança foi separada dos adultos e mantida à distância numa espécie de quarentena, antes de ser solta no mundo."  [6 ]

 

Figura 9 - Ivan Illich ( 1926- 2002 )

Que pode uma verdade contra milhões de ilusões e outras tantas falsas esperanças?

Um visionário que já paradoxalmente viu a sociedade transformar-se no horror que imaginava e nada se fez para mudar. ( In nicholasgimenes.blogspot.com )

 

    A utopia de Illich colocava-se para além da história, acreditando numa aprendizagem com educação e organização sem depender de novos mecanismos industriais. As técnicas já ultrapassaram em muito o sonho das possibilidades educativas que este pedagogo desejava. A aceitação da sociedade de uma mudança radical da aprendizagem e a desaparição de escolas, professores e todo o burocratismo que se aplica e vem de séculos incontáveis, seria uma revolução total sem armas. A escola é um dos mais fortes pilares do poder da indústria e da economia do mundo inteiro e Illich é um visionário que derrubaria toda a estrutura social. A própria possibilidade de uma crianças aprender em casa, no seio de uma família já apresenta dificuldades pois a própria casa tem pouco de lar e a família tradicional está desenraizada. Isso não impede de repensar com este filósofo e pedagogo o futuro da aprendizagem, sem eufemismos de afirmar que a escola é uma máquina que aprisiona todos e sem fim à vista, antes pelo contrário, cada vez mais tirânica.
    As assalariadas começaram a ascender a novos graus que antes nunca as servas teriam. Agora irão surgir governantas, criadas de quarto, cozinheiras e depressa terão outros empregos. O salário justificava a separação dos lares e o trabalho passa a determinar cada vez mais a orientação da vida. O burguês começa por cuidar mais do que trabalhar. Administra, mas passa a contratar contabilistas, escriturários, secretários e moços de recados. No fundo, o trabalho é cada vez mais o inferno de muitos para bem de poucos.
    A burguesia tinha trabalho para todos e para ninguém. A senhora afastava-se cada vez mais da rua, e também dos trabalhadores de seu pai ou marido. O casamento provava que existia um estatuto que atribuía ao marido a pertença a uma classe média, à rica burguesia ou, pelo menos, a um desafogo que evitava a exposição feminina fora do lar.
    Assim acontece a ascensão burguesa com enorme mudança de laços sociais e as alterações quanto às atividades e tarefas que cada um desempenhava. A nobreza em geral passava o tempo em passeios, na caça, na pesca, no desporto, ou bailes, serões e viagens de entretenimento. Nada disto nos soa ao trabalho tal como se pensa agora. Por outro lado, a aristocracia, com muito pesar dos conservadores, mistura-se com a nova classe. A noiva burguesa, ao casar com um nobre, trazia o dote que o aristocrata arruinado ou carregado de dívidas necessitava.

 

Figura 10 - Pintura satírica de William Powell acerca do contrato pré nupcial.

 Estão em causa interesses familiares que se discutem sob o olhar afetado do noivo, pobre e cobiçoso e o ar constrangido da jovem

 

    Como mais tarde estudaram Tocqueville e Le Play, os sistemas dotais subvertem a autoridade do marido na sua própria casa em benefício do patrono financeiro. Assim, o sogro diria ao ver os noivos: "Sois meus filhos, pois vos dou as minhas filhas. [ 7 ] Ela passava à condição de aristocrata e ele, com o dote que agora restabelecia as finanças abaladas, se tivesse juízo tornava-se um rico proprietário e administrava esse dote. Os casamentos concertados entre as famílias traziam um certo consenso e a conjugalidade e a afetividade não tinham os laços que se lhes dão hoje. Um exemplo, entre muitos, foi o da mais rica vinhateira do Norte, Adelaide, a Ferreirinha, cujos casamentos foram ambos concertados e com bom senso em que a economia e os benefícios eram divididos por ambos os esposos.
    No problema do trabalho, conhecimento e atividades da mulher há uma longa luta histórica em que o labor feminino foi visto de acordo com um mundo masculino desde o conflito do senhor e do escravo, dominados e dominantes e todas as teses que procuram entender o que as ideologias escondem. A ideia de uma mulher a trabalhar fora do seu domicílio é algo muito recente e fortemente combatido por causas que estão ocultas no devir histórico.
    Nos fins do século XIX, surge cada vez mais nítida a noção de que há algo estranho com estas situações tão díspares e a forma de manter a mulher fora do trabalho, já não é parece ser só um preconceito. A evidência da contradição histórica aumenta sem parar. A noção de mulher livre, no que quer que isto significasse, em cada época, afastada da institucionalização formal vai ser fortemente abalada. O homem livre continua a ter um significado que se afasta da mesma ideia quando atribuída à mulher. Todavia, para além do conteúdo ético, a mulher livre é também a que é capaz de se sustentar e ser independente em diversos sectores sociais.
    Por isso, a perplexidade e a preocupação masculina de diversos estudiosos crescia, quanto mais viam as capacidades femininas irem tão longe ou serem mal aproveitadas. A ideia de conhecimento para o sexo feminino como aprendizagem educativa, só estava correta num mundo já bem complexo, ligada à família e a reverter para a família. Será excessivo falar-se na maldição da literatura para ver como esta não conseguiu libertar a mulher da casa e da ignorância preconceituosa?

 

Figura 11 -  Tela de John Henry Hensllaal .

O pintor captou a revelação de um enigma a uma jovem mente que, de repente, encontra uma luz nova. Será que isso a prende ou liberta?

 

    Através da história vamos encontrar mulheres serviçais ou senhoras que nunca trabalharam e muito menos com salários e contratos. As suas atividades não tinham tal sentido. Os vínculos pessoais e a diferença entre pessoas e objetos não se confundiam. As funções determinavam as atividades mas sem aquela separação rígida entre trabalho e lazer. O trabalho, tal como a burguesia o determinou, é uma invenção muito mais recente do que se pensa. Horários, salários, contratos, desemprego, idade útil, reforma, relógios e horas de ponta, tempos vazios são imposições novas e cada vez mais escravizantes.
    As grandes famílias começaram a exigir mais cuidados constantes e repetitivos. As criadas, lavadeiras, engomadeiras, cozinheiras, as damas de companhia, mulheres-a-dias ou para os recados tinham estatutos de crescente complexidade entre si.
Um fator desestabilizador e bem complexo é a presença de uma criada, empregada doméstica, ou qualquer outro título atribuído ao trabalho que em qualquer casa burguesa exige. Há uma privacidade quebrada e um novo código de acordo com os estatutos. É óbvio que apareça uma certa hierarquia um pouco feroz entre os empregados, pois o egoísmo é sempre maior do que qualquer união de interesses. Entre as assalariadas disputavam-se regalias e salários.
    Entretanto, os homens só lentamente aceitaram, se bem que com alguma vergonha ou desprezo, alguns desses serviços. A velha Inglaterra, ou a nobre França contentaram uma criadagem em que mulheres e homens tentavam definir o seu posto de trabalho.
    A dualidade que se encontra no pensamento "simmelliano" surge tanto no que concerne à mulher, como ao que pensa acerca da cultura. Se bem que tal como a observa, "a cultura seja sempre síntese" (..)
acontece que o puro desenvolvimento autónomo do espírito subjetivo e o envolvimento nas coisas - não está no mesmo nível; antes, vincula-se ao segundo como um interesse secundário e reflexo, abstrato e geral, além do imediato impulso de valor interior da alma.". [ 8 ]
   
De novo está patente que o subjetivo da cultura feminina não tem aquele trio do desenvolvimento de que o sociólogo tomava como apanágio do masculino. A lógica de princípio, meio e resultado objetiva. Esse raciocínio seria sempre o cerne da necessidade do homem em produzir e nunca se satisfazer. O anseio do infinito estaria presente em qualquer obra realizada e levaria sempre a uma constante busca. A mulher ficar-se-ia centrada em si mesma, pois a sua própria essência a liga à vida e ao Universo. A criação não lhe surge tão premente e ela em si mesmo tem a transcendência que falta ao homem. O sentido que Simmel atribui aos dois níveis de cultura dos dois sexos remeteria para o insucesso feminino nas instituições sociais.
    Tal aconteceria realmente se a democratização não pudesse trazer ao vagão da terceira classe, o livro que a dama lia na primeira classe.

 

Figura 12 -  Quadro de Daumier  - No vagão da terceira Classe.

A impassibilidade do movimento e a aceitação resignada da vida

 

    Quando a obra chegou às mãos das mulheres, as lágrimas da burguesinha ao ler "Os sofrimentos do jovem Werther", (1774) no luxuoso vagão que ocupava, não deviam ser muito diferentes dos suspiros que a operária ou camponesa que já gostava de ler, por entre as cestas e solavancos da carruagem. Mas cada uma lê o que consegue ler como aprendeu e não pode ter argumentos fora da estrutura mental que lhe é fornecida.

 

Figura 13 - Pintura de Coles Philips - A contradição.

A criada da limpeza descobre mistérios insondáveis para a sua condição. A pausa proibida.

 

    Um dos fenómenos estranhos, acerca desta obra de Goethe, é que houve uma série de suicídios "à Werther" por causa do sentimentalismo da obra. Mas as mulheres, ditas de carácter frágil ou sugestionável, não atentaram contra a vida depois da leitura da obra como aconteceu com os jovens da época.

 

Figura 14 - Renoir.  A leitura não passa de sonho.

A mulher habituou-se excessivamente a separar a vida doméstica das leituras que a podiam libertar. Curiosidade e pragmatismo da vida doméstica que nada criam.

 

    O sonhar acordado da vida subjetiva feminina dava-lhe limites práticos que os homens não ponderavam. O raciocínio feminino, se atinge os seus fins tal qual o de uma máquina, ou de um homem, tem uma profunda complexidade de meios para lá chegar. Simmel reparou empiricamente nesse fenómeno que os cientistas da neurologia cerebral comparada já confirmaram. O individualismo masculino é muito mais estimulado em todas as épocas e em todos os ambientes, ao contrário do que acontece e condiciona a mulher.
    Após o paradigma da modernidade,
a obsessão da identidade e o receio de a perder face ao outro, o estranho ou o desconhecido tem sido excessiva e exacerbada por toda a ideologia. Werther anunciava já uma exaltação do eu que vai desembocar no individualismo que hoje é comum.
O sociólogo Bauman, [ 9 ] já na nossa época, temera por esta separação e referira como os movimentos neotribais no urbanismo são de pouca duração, pois são interesses individualistas que os usam e não têm a força ou coesão dos antigos movimentos tribais. Os indivíduos saltam de novas tribos para outras por razões puramente pessoais. É óbvio se são os interesses da cada um que leva a haver um grupo, as razões para se manter são frágeis.
    Quando Touraine [ 10 ] insiste em colocar a ideia de "Sujeito" no centro de toda a sociedade está a valorizar o individualismo e a liberdade para que a globalização não seja o sonho de Marx realizado e transfigurado em pesadelo vivo.

 

Figura 15 - O mundo dos negócios. A entrada está interdita à mulher, a racionalidade dá solenidade a uma máscara vazia.

A moda masculina de sobriedade e afirmação de si pede uma bengala, símbolo, ou não, do poder.

 

A racionalidade do sistema enfraquece, pois este foi construído sobre a ideia de que a sociedade não tem outro fundamento além do social.

 

Figura 16 De longe, F. Halz, já mostrava outro poder, em "O banquete dos oficias".

 A força do poder e o poder da força

 

    Afinal o que pretende defender o pensador francês é a possibilidade da existência de um ser individual que possa ter existência fora de sistemas. Mas o social, racionalizado até ao ínfimo pormenor do nascimento à morte, tem ainda sentido em existir?
    O paradigma que representa e organiza a sua existência em termos económicos e sistémicos, com base em categorias de classes, trabalho, produção, capital e mercado evidencia, a grande característica da modernidade: a sua contínua tensão e conflito entre um universo instrumental num universo simbólico que cada vez se encerra na sua própria esfera e deita fora tudo o que não consegue ordenar. O simulacro do real veio dar ao simbólico um vazio completo do humano.
   
Tudo isto não passará mais de uma fase em que se afirma que "o social não acabou". Todavia há que repensar esse social que, na prática, roda sem parar na sua marcha, mesmo que não vá para lado nenhum e tenha há muito perdido qualquer sentido.
    Curiosamente, será por entre o que se diz ser a profissão de professor, mestre e afins que aprendem a ensinar que melhor sabem proferir um discurso sobre o mundo. Assim, paradoxalmente ensinar leva mais depressa a aprender do que a simples aprendizagem. A educação, enquanto se manteve no meio dos adultos, trazia o selo da cultura viva. A aprendizagem nos meios escolares é sempre de algo já há morto que se apresenta aos ingénuos alunos como a cultura e o saber vivos. Estes autores de hoje, que tanto refletem sobre o que já aconteceu, tentam desvendar o que sucederá com a sociedade líquida, isto é sem laços fortes, sem sentido de futuro, sem unidade de ações de que tipos forem. A tentação da globalização é de pensar que se pode discursar sobre o todo quando este não existe senão com conceito. A pujança do localismo contraria qualquer teoria que nos leve a entender a multiplicidade de formas presente no global.

Figura 17 - Pintura de George Catlin.  Cena de um rio e os barcos dos índios.

A natureza e as pessoas tinham a simplicidade das atividades sem o imperativo do trabalho, salário reforma....

 

    O Oriente e o Ocidente apresentam dissonâncias absolutas no que concerne à mulher e esta variável que se oculta em tantos pensadores, representa metade da humanidade. Ora a mulher oriental lê ainda o que lhes dizem ser adequado e foi escrito para elas. Todavia, há milhares de fendas nos sistemas, mesmo os mais fechados.

 

Figura 18 - A invisibilidade feminina é terrível em muitos lugares mas uma tragédia silenciosa em larga escala mundial.

Um "esquecimento" de que raramente se fala.

 

 

    A tecnologia abre portas onde menos se espera, por isso, a interrogação acerca da ação feminina no oriente terá uma resposta que tem muito a ver com a velocidade das próprias tecnologias. Dir-se-ia que as ideologias caminham para a sua diluição, acabando assim por dão razão ao pensamento que nos transmite Bauman, mas tendo em conta não se refere a todas as sociedades.

 

 

    Assim, tanto a leitora do vagão da terceira classe ou da primeira, continuaram lendo e vivendo na superfície das obras e na alienação do romantismo que as amarrava ao seu estatuto, nenhuma consciência de si apreendem. Werther pode morrer quanta vez quiser que a figura de Carlota, o anjo mau do lar, continua a farsa e o digno Alberto, o ético, terá de viver o peso da tragédia por não ser ele a morrer.
    Werther deveria ter um seguimento noutra obra que não convinha a Goethe escrever: "As alegrias do casamento".

 

Figura 19 - Gravura da obra "Os sofrimentos do jovem Werther".

 Carlota, rodeada pelos irmãos.  Imagem idílica da mulher por quem Werther vai perder a vida.

 

 

 

    O comboio em que viajavam move-se pela força da economia, da atividade que, cada vez mais passa a ser entre objetos e com objetos sem a mínima réstia de humanismo.
   
A anomia social já não é um conceito vazio, mas a cada passo se vê como se rompe o que se dizia com ingenuidade, o instinto protetor, maternal, a generosidade, a compaixão para com o outro. Agora o outro é o estranho, o perigoso, o doente. O grande paradoxo dos preconceitos e dos conflitos femininos é a incapacidade de visão que a vítima tem dos seus exploradores pois é neles que se revê e considera mais depressa sua rival uma "outra" vítima também, do que o verdadeiro e cobarde oportunista.
    A sabedoria da avó dirá, ao passear na rua com o inocente e ingénuo neto:
        ---
- "Não te aproximes desse menino".

    A pobreza e a limpeza, o que não se deve ver e o que está correto no sistema é tornar invisíveis uma série de mulheres de limpeza, de vigilância, de bata ou de algum modo assinaladas, para ocultar onde quer que prestem serviços que por ora uma máquina não substitui.
   
O sujo e o limpo de que Bauman tanto fala, são visíveis a cada passo nas ruas de qualquer cidade. "
O oposto da "pureza" — o sujo, o imundo, os "agentes poluidores" — são coisas "fora do lugar". Não são as características intrínsecas das coisas que as transformam em "sujas", mas tão-somente sua localização e, mais precisamente, sua localização na ordem de coisas idealizada pelos que procuram a pureza."  [ 11 ]

Figura 20 - Fúlvio Pennacchi . Pintor ítalo - brasileiro.  (Séc. XX. )

A caminhada da desordem para nenhures. O lixo humano

 

    Ao recolherem a suas casas, as duas leitoras deparavam-se com um cenário que a burguesia lhes impunha. Cada uma recolhia ao seu lugar, arrumavam o livro e a ordem podia continuar. Até que a grande industrialização não conseguiu conter a desordem, o estranho, o outro. Por fim, o individualismo contagiou o sexo feminino. A casa tremeu. O lar exteriorizou-se materialmente e internamente arrisca-se a ficar vazio.

 

Figura 21 - O lar agora está vazio.

A mulher trabalha, as crianças estão na escola.  A refeição de casa, na pressa, na fadiga, no desânimo e na necessidade de continuar a corrida. Quem parar fica para trás!

 

    A casa, o lar é exatamente o cerne do conflito. O dentro e o fora do que se quer considerar humano torna-se numa metáfora em que não é a quotidianidade que descobre. Ali, onde seria o acolhimento familiar desembocam todos os dramas, aspirações e tragédias do público vazio. Excessivamente humano, o lar é agora a pedra angular de um sistema que rodaria na perfeição se o ser humano não o tivesse criado tão metódica e racionalmente.
    O conservadorismo de Simmel, lá nos confins da Alemanha e a perplexidade de Ferreira Deusdado, na ilha Terceira, ambos afastados do Poder, diante o problema feminino tem algo de trágico. Ambos sabem ver que há um problema, mas desconhecem muitas variáveis e não encontram a solução. Aí se entende que ambos os pensadores se insurjam contra a desaparição da figura feminina, o centro e o âmago da casa quando esta representava a condição humana na sua forma mais interior.
    Ambos vêem na feminilidade um ser social de extremo interesse e aceitam essa forma da condição humana. Mas qual é o lugar que se deve dar à mulher?

 

Figura 22  - Por entre todos os fios da teia da vida o impasse dos dois pensadores prende-se com a grande mudança social do sexo feminino.

Sem referenciais que lhe ofereçam um paradigma nenhum lugar é o da mulher

 

    Ferreira Deusdado não abdica do culto da maternidade, do hino ao "santuário do lar" e, quanto à dependência feminina do mundo masculino e a superioridade deste são pressupostos de que não renunciam. Afinal, para eles, a mulher é, ainda essa desconhecida, um ser enigmática e temidos séculos sem fim. A influência da religião cristã é um argumento que serve a Deusdado para insistir na atribuição à mulher o papel de esposa e mãe. Afirma com pessimismo que: " Quanto menos elevado é o estado de cultura, mais semelhantes são as ocupações dos dois sexos. ( …) A mulher sabe crer e amar como ninguém, as convicções sinceras geram quase sempre na sua alma a intolerância e o fanatismo. As grandes rainhas foram para com os seus adversários mais cruelmente implacáveis do que eram os reis." [ 12 ]
   
Já Simmel prende-se com argumentos mais ou menos filosóficos e não psicológicos. Quando uma mulher atua com uma logica objetiva, ou seja, masculina, mostra essa crueldade e frieza que Deusdado lhe atribui.
    Se Deusdado se abriga em ideais da arte e da poesia, na ara da religião assume que há na mulher certas capacidade de atingirem ideias mais depressa do que os homens em casos que os dois pensadores não saberão explicar.
   
É curioso, da parte de Simmel que fala da mulher e tem na sua sombra uma esposa que parece desejar que fique na sombra, pois note-se que ela sendo uma escritora que só deixou de o ser depois de casar e que tinha fama de boa professora, parece que era na maternidade que lhe encontrava o seu verdadeiro sentido. No resto os dois pensadores estão perplexos pois descobrem características diferentes nos géneros, mas não querem diminuir a mulher. Mas para ambos só há perplexidade quanto ao papel que culturalmente a mulher desempenharia.

Figura 23 - Há um medo ancestral da mulher e do seu poder.

Será um cordeiro com pele de lobo? O jogo nunca se definiu

 

    Simmel mostra uma maleabilidade da linguagem para tentar atingir a definição do segredo da feminilidade mas acaba por o colocar antes da própria mulher. A mulher nasce feminina e tem um percurso de mulher sem a destruição da sua unidade. O homem nasce na condição humana e adquire depois a sua masculinidade. O homem é um ser dual tanto na sua essência como na sua obra. Quanto à feminilidade trata-se de um núcleo que embora seja dada a arca ao homem este não tem capacidade de a abrir porque não tem a chave adequada. É indevassável e o seu sinal que remete para a génese da mulher, é um fenómeno de reserva que o homem pode tentar captar mas só capta o coquetismo.
    Esta é o lado exterior de um ser que o jogador só consegue captar o que bem quer demonstrar, entre o agradar para Simmel e o ser apreciado para Deusdado, a coquetterie não foi nada que ambos não conhecessem bem. O gesto e a dança são os melhores atributos que encontram para a mulher e o dom da palavra ou a inteligência para o seu sexo.
    Do que mais os preocupava, salientamos a sua perplexidade e boa vontade. Se Simmel tentava desvende uma nova cultura em que as capacidades da mulher se revelariam. Deusdado via na educação, nos colégios e especialmente numa educação igual para ambos os sexos, um mal social que teria de ser corrigido.
    A perturbação diante de um ser que dialoga e os entende alia-se à repugnância de ver ao seu lado, no trabalho, especialmente no caso de Deusdado, o ser que considerava delicado e "de nobres qualidades" a competir em trabalhos que se lhe afiguram desadequados. Como criminalista e estudioso dos delinquentes, conhecia o valor da educação, sem contudo avaliar a capacidade de aprendizagem feminina. O contexto positivista e cientista em que viveu foram um contraste com a sua índole idealista o que lhe deu a ambiguidade que Manso o acusa severamente. [ 13 ]

 

Figura 24 - Os vultos que escapam a qualquer interesse ou estudo social.

 O que não se vê melhor é o evidente

 

    Simmel insiste na visão da mulher que convive com ele. Não se refere a outras, mesmo quando trata do tema "A aventura" tome a sublimação dos sentimentos masculinos com o cerne da questão, o outro lado do assunto, a mulher nem seja mencionado. Os seus preconceitos quanto "às outras" são os mesmos que Deusdado possuía.

 

Figura 25 - As "outras " não deixaram de voltear à roda de Deusdado nem de Simmel.

Todavia a sua perspetiva é terrivelmente cruel e de uma insensibilidade que nada tinha de cavalheiresco para serem dignos do nome de honrados num "homem livre".

Frequentadores de salões e de lugares menos seletos..

 

 

    Esse fenómeno traz consequências muito pesadas para a luta das mulheres por uma libertação pois se hostilizam e não se vêem todas como vítimas que o mundo masculino prefere bem que se conserve em conflito.

 

Figura 26 -  A mulher rapidamente aprende a gerir o capital, num Almanaque de 1926.

Esta caricatura mostrava sem ser esse o intuito as capacidades que tanto se negavam à mulheres eram bem perspicazes a avaliar classes sociais.

 

 

    A democratização da leitura tinha um resultado pouco significativo para qualquer rápida consciencialização do valor que em si mesma a mulher encerra. A falta de esclarecimentos ou sentido crítico das leitoras tornavam a mensagem acerca da submissão, dos maus tratos dados às mulheres e do valor da inteligência e independência sem visibilidade, face ao ouropel romanesco conveniente da época das paixões e da felicidade prometida.
    Assim, bem se pode falar da insucesso da literatura, porque depois do "impossível" no findar do enredo ter acontecido todos os possíveis deixam de ter interesse e o romance morre. Nietzsche acrescentaria ainda:

    "Que importa um livro que não pode, uma vez, transportar-nos para lá de todos os livros. Após a sua ruína deve dar acesso à experiência.


    Em vez disso, os livros amontoam-se nas mentes que nunca despertam. Nem a melhor das intuições fará descobrir frases profundas sem os instrumentos para os interpretar.

 

Figura 27 - Ao olhar distante não se sabe quem sobe nem quem desce e o subir ou o descer podem nem estar a acontecer se não tiver um final ou início

 

    Numa espécie de espiral cada etapa necessidade de uma certa diversidade de obras, tal qual uma escada, se saltarmos degraus, a queda é fácil e se subirmos a escada a correr esquecemos cada degrau. Os livros são armas. Mas podem ser tal qual brinquedos inofensivos.
    Iniciar imediatamente uma outra leitura logo que se "devorou" um livro, é muito arriscado. O consumismo também chegou cedo aos livros e até Rousseau o confessou na sua autobiografia, pois chegou a roubar para comprar livros.
    Cada capa que se fecha deveria ser para se refletir por si e para si, sem sonhar o impossível final. Os livros não transmitem experiência esta é que ajuda a realizar a obra. O livro torna-se num espelho do leitor que só encontra ali o que procura ou lhe é agradável. Aprender a ler é uma constante lição de leitura do que não foi dito e que obriga a atender ao passado e indagar quem escreve. Ler é escolher um caminho, descobrir um amigo ou um adversário. A tese do livro único é a antítese de que todos são bons. A leitora teve sempre menos direito a grandes escolhas, o seu espírito ficava cativo da vida prática. A casa, a sua proteção, é também a sua perda de liberdade.

 

Figura 28 -  Indiferença e curiosidade. Destinos que nem se cruzam e são opostos.

A ordem e a limpeza e o seu oposto que nem nome tem.

 

    O comboio que transportava a burguesinha e a operária continuou em andamento cada vez mais veloz.. O que levava é que mudou. Já não é só a mulher que vai no vagão da terceira classe. Os antigos operários da época fordista seguiram-lhe o rumo, os emigrantes, nem se sabe de onde nem para onde, enchem a abarrotar as carruagens. Um letreiro ainda ficou pendurado e veem-se de longe as letras " O trabalho liberta" --- ( "Arbeit macht frei" ) --- e o comboio segue com exilados, deportados, aumentando as levas de desempregados, as multidões de mulheres com esses seres humanos que o sistema é obrigado a deitar fora todos os dias, como faz impiedosamente com o lixo das madrugadas citadinas.

 

Figura 29 - A industrialização tem de se resguardar de todo o lixo.

A ordem e cada coisas no seu lugar exigem a violência crescente do lixo

 

 

    Nas velhas aldeias não há lixo. Os turistas virão trazem-lo e com eles os sonhos para as camponesas que veem a cidade pelos seus olhos. Os viajantes que passam trazem e mentira do ócio e escondem a servidão das grandes cidades. As pobres mulheres que se arriscavam a partir, com malas carregadas de sonhos, entravam pela porta de serviço das casas dos ricos.
    Há necessidade de tudo estar no seu lugar e haver lugar para cada coisa. Assim, a corrida ao emprego citadino, seguro e burocratico iria tornar-se na véspera da descoberta de que o trabalho estava morto.

 

Figura 30 - A visibilidade é enorme mas parece que o deserto da cidade só tem corvos.

 Pintura de Vasili Vasilierdich Verserhchagini.

 

    O regresso a casa já não pode ser fácil. Não há casa, nem se sabe caminho de regresso. A mulher tinha um lugar na casa, agora não tem lugar, nem casa. Estes e outros trabalhos femininos continuaram a ver-se com desprezo e com desvalorização da mulher e os homens sempre evitaram ocupar tais lugares.
    A casa é um reduto de onde partem e chegam as figuras masculinas desde os mais remotos tempos. A mulher tornou-se parte da casa, início e fim da vida. Cuidados humanos indispensáveis sem a casa e, por isso, toda a perplexidade da burguesia por temer que fique vazia e as mulheres aparentemente se libertem.  Durante séculos, casa foi o local subjetivo de uma cultura que ocultava a mulher.
Em suma, cortava o tempo nas duas extremidades, separava o privado e o público. Nem de tal se falava pois era uma noção perfeitamente assente.

    No meio da burguesia, a "casa" era mais do que o lar. Tratava-se do local de acolhimento e de recolhimento e as paredes simbolizavam separações com cortinas e reposteiros nas janelas para mostrar bem os códigos de dentro e de fora.

Figura 31 - Rasga-se a separação entre público e privado, surgem outras barreiras e muito menos certezas da identidades de quem é quem .

Trabalho feminino no sector masculino fá mais emprego feminino no sub mundo do privado.

 

    Com a grande mudança que a instrução trouxe, o paradoxo de uma mulher se profissionalizar, implicou que outra mulher a substituísse nos trabalhos da casa. Repare-se que é muito complexa a aceitação masculina de se tornar um empregado doméstico, se bem que nem sempre sejam mal pagos, mas muito mais pelos preconceitos que isso acarreta.

 

Figura 32 - A libertação feminina tem de libertar o homem ou não terá sentido.

A igualdade não tem lugar se a fraternidade não estiver ao seu lado

 

    Foi significativo, para a negatividade do feminino que, desaparecendo as empregadas domésticas, não se banalizou o trabalho para os dois sexos com tais tarefas ocultas e sempre desprezadas pelo homem. As moradias passaram a ser apartamentos. Nas melhores das hipóteses, modificações arquitetónicas tornaram a casa mais funcional, mais pequena e com a minimização de móveis e objetos, que afastam as velhas habitações, os seus vetustos móveis geracionais e um gosto cultural requintado para a intimidade da  família. A institucionalização da habitação multiplicada em padrões monotonamente repetidos em longos bairros residenciais fez evaporar os vizinhos e todos são desconhecidos que nunca se falam nem cumprimentam.

 

Figura 33 - Cada habitação é igual às outras no seu exterior.

Mas o conflito existe no âmago do lar, casa ou sonho de felicidade doméstica

 

    Um gesto amigo pode ser mal interpretado, a rapidez citadina rouba tempo para trocas de saudações. O inimigo pode estar em qualquer parte e a competição é feroz. Há um emprego para seiscentos candidatos. Mas a luta é para a frente, mais uma oportunidade de formação, pós formação e talvez, num país distante como Bali, sem Bing Crosby, Bob Hope nem Dorothy Lamour já há muito sem pátria, se alcance um emprego.

 

Figura 34 - Quando o outro lado do mundo era mesmo o outro lado do mundo do riso, da cor e da ingenuidade

 

 

    Ter um posto de trabalho transformou-se no centro vital à roda do qual gira tudo a existência de milhões de seres humanos. O tempo que resta são intervalos, aqueles que não são absorvidos por horários. O relógio está no pulso de toda a gente desde criança.
    O iluminismo trouxe a condição humana, branca, europeia, prática e, como pormenor indispensável, o trabalhado obrigatório para todos. Nos EUA a igualdade do ensino, as mulheres com novos direitos e as inovações sociais apressaram a Revolução Francesa trouxe a igualdade do dever de trabalhar e a lei que abolia a mendicidade. Criou obviamente outros lugares de trabalho ao proclamou este um o dever, e uma lei que abolia a mendicidade. Só não se pode abolir a miséria nem toda a substituição da mão-de-obra por máquinas.
    . A roda da vida circula à volta da economia e do capital. Não é uma roda humana mas de objetos todos puros, isto é, organizados, todos cumprindo a ordem e a racionalidade. Bauman acrescenta que são possíveis de descartar todos os objetos logo que não sejam assim tão puros ou tragam desordem da racionalidade com que toda a sociedade se rege. Os estranhos, desconhecidos, depois os pobres, os desempregados, todos que não têm poder de consumo não deixam de trazer um mal-estar e não se enquadram no sistema. Para que a circulação económica continue é preciso a máxima ordem e esta só se obtém pondo fora tudo o que traga desordem.

 

Figura 35 - A pobreza arrasta o sujo, o nojo do desconhecido, do diferente, da miséria, do vagabundo.

Há uma inquietante questão a responder que nunca merece uma resposta que a todos satisfaça. Que fazer com este "lixo" social que só mostra que está a mais no sistema?

 Aqui temos um exemplo de formas de prevenção da pobreza que nos diz "Da Caridade à Segurança social". Ou seja como passar do amor "caritas" para a instituição impessoal e sem rosto.

 

 

Figura 36 - Pode parecer uma metáfora. Mas os alfaiates seguem a ordem mais certeira.

 Tudo é medido, contado, com precisão. Por isso são peritos e têm emprego garantido dentro da ordem do sistema

 

    Os ociosos, os exonerados, marginalizados, ou excluídos criam uma ordem marginal. Uma série de empregos para dar ordem à sociedade. Os advogados, juízes, escrivães, polícias, seguranças todos trabalham para a pela ordem e pela limpeza. As cadeias estão cheias de excluídos, mendigos, ladrões de pequenos delitos. O problema das margens é que estas continuam a aumentar e a causar cada vez mais conflitos, inquietação, medo, os riscos da nova sociedade de que tanto fala Bauman, Beck, Giddens e outros.  

 

Figura 37 -De Miguel Botelho Moniz, ( In "O Insurgente" )

Isto pode ser trabalho ou o seu enterro. Cavam-se margens largas para separar pessoas. No centro vazio à roda do poder reina a ordem, já ninguém se atreve a visitar as periferias.

     

    Pode ser o vento que traga gases mortais, a chuva ácida a comida que nem se pode ter certezas da sua pureza, as roupas que trazem alergias pelos tecidos, os medos das falências dos bancos, da insegurança global.
    Como para desviar a atenção da realidade, a moda tornou-se cada vez mais o motor económico e o capital mais forte para invadir a sociedade que assim ainda é mais efémera. Nada é realmente sólido. Se bem que se bem que os mais avançados sociólogos não tratem diretamente dos problemas femininos, também se alarmam com a desaparição do humanismo
As regras do jogo da vida mudam constantemente. Temos de viver com tudo a curto prazo, sem certezas, numa era que todos afirmam ser de riscos e de ambiguidades. Mas não terá sido sempre assim?
    A alteração dos papéis a representar pelas mulheres contemporâneas, no nosso tipo de sociedade, criou um novo problema: "a identidade insegura".

Figura 38 - "Compra, usa e deita fora".

 A burguesa que temos, bens de consumo, beleza em patética tentativa, afeto pelos animais domésticos.

Solidão, hábitos masculinos, e a certeza de que pertence, faz parte e roda no sistema até ao final dos seus dias.

 

    A identidade até à grande mudança da pós-modernidade partia da segurança do nome de família. Quando alguém chegava a um grupo qualquer onde era desconhecido, evocava-se o seu nome de família como referente para o representar. A família e os seus vínculos criavam logo referências no grupo. Agora uma pessoa não é, não tem interesse o nome, o que os outros querem saber é o que faz. Passou de ser humano a representante de uma instituição, de um grupo Ford, Singer, Simens, ou IBM. Mesmo pertencer à realeza é obsoleto e caricato não ter emprego..
    O que é que faz? Trabalha na Philips, na Pfizer numa instituição bancária isso já diz muito. Mas já não tem a confiança de há tempos atrás. Mesmo sendo um sentimento que se exaltou com o romantismo, se desenvolveu com o individualismo, a identidade oscila logo na infância. O refúgio não está na segurança do emprego, nem na família nem nos amigos. Os velhos referentes desapareceram.

    Os valores não são, valem. Nesta qualidade são humanos, de for apenas de escolha perdem muito da sua profundidade. O valor atribuído seja ao que for, valerá conferido a algo que atribua uma qualidade.
Qualquer valor só é um valor maior ou menor devido às circunstâncias A fascinação pela liberdade estava a embriagar a sociedade até que quando a burguesia a trocou pela prosaica segurança. Quando é a vez de a segurança se diluir na anomia do individualismo é tarde para tentar procurar "um local ponde se possa repousar a cabeça" assim o disse o Filho do homem.

        Nos inícios do século XX ainda se podia comparar dois modos de vida. Se bem que o tempo dos vínculos e dos valores partilhados por todos desaparecia e começava a manifestar-se a impessoalidade do urbanismo, o regresso ao lar marcava uma estrutura em que a mulher, mesmo depois das duas grandes guerras, continuava a segurar, mais do que qualquer outra construção, a sociedade ocidental.
         Causa uma certa surpresa notar como os pensadores, que estavam preocupados com a condição feminina, não olharem atentamente para a mulher, que vivia ao seu lado, com a qual por certo teriam de falar e que era reprodutora das tarefas quotidianas sem qualquer possibilidade de se valorizar e a realidade bem visível da mulher produtora social que entrava na indústria, no comércio ou na fábrica.

Figura 39 - A mulher sem trabalho, sem casa, sem família.

 Era comum que tinha de mendigar e era invisível no meio dos outros na pressa e na corrida para cumprir o dever do trabalho num lado qualquer.

 

    O êxito das exceções era aceite mais para firmar a regra do que para evidenciar a igualdade dos sexos. Os filósofos não viam, fechados nos seus gabinetes, a realidade do mundo feminino.  Surpresas sucessivas alteravam o mundo onde a tecnologia se aliava à velocidade das mudanças e descobertas das ciências anunciadas nos jornais e guardadas em almanaques. Temia-se que as pessoas morressem se os comboios andassem muito mais depressa e que o gado não resistisse à passagem dessas máquinas loucas que espalhavam o ruído e atemorizavam os animais e as pessoas dos campos.
         Com tantas modificações, passa-se a aceitar bem a medição e racionalização das horas, dos dias, as operações anónimas, de toda a ordem, realizadas através de pagamentos em dinheiro, o que veio trazer à sociedade urbana a marca da modernidade e grandes transformações sociais.

 

Figura 40 -Virtual, real ou não, poucas portas se fecham diante do novo ídolo

 

    Sem que se precise de dizer pressente-se que, cada vez mais, tempo é dinheiro, em abstrato ou realidade, em qualquer ideologia, em qualquer forma de ver e observar o mundo. Apenas para a mulher com todo o seu trabalho invisível e monotonamente repetitivo, esse tempo não se conta nem é valorizado. Separar coisas e homens é preparar o terreno para tratar tudo como coisas. O certo é que o dinheiro era o paradoxo da permanência e da circulação. Face ao urbanismo crescente, toda a gente parece perseguir desesperadamente o dinheiro, quer na busca de sobrevivência, quer na busca de uma ilusória felicidade. Isso não traz nem paz nem segurança.
   
A mulher que embarcou no comboio, lá muito para trás, e a que agora desembarca ágil e apressada, sem tempo para leituras que não a informem do dia-a-dia e pouco mais, é quase irreconhecível no aspeto mas não na consciência de si, da pobre assalariada da terceira classe de outrora. Continua a andar no último vagão mas agora isso pouco importa pois a multidão é enorme. Porém é na mulher que melhor se manifestou sempre a transcendência da condição humana e a sua carência infinda de infinito.
    No cerne do feminino há ritmos do tempo insuperáveis, da própria natureza e da vida. A lentidão é a forma mais próxima e sábia de entender a Existência no seu âmago. É esta lentidão que as novas gerações aprendem. Há necessidade extrema de desaprender teorias, sistemas, complexificações administrativas tecnológica para o humano ser mais humano, sem emprego, inútil trabalho e retomar uma simplicidade perdida.

 

Figura 41 - A simplicidade perdida e os ritmos da Terra.

( Arthur John Elsley 1862-1950 )

 

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NOTAS:

 

 

 

 

[1]  Kruz, Robert, Manifesto contra o trabalho Grupo Krisis 2002 Editora Antígona, Lisboa .

[2] Coulanges, Fustel. A cidade Antiga,1920,Livraria Clássica Editora, Lisboa pp. 192-197

[3] Nota; Pernoud, Régine “Idade Média? o que não nos ensinaram”):


Esta medievalista trouxe ao conhecimento do público uma Idade Média que ainda não se tornou realmente conhecida. Por exemplo: Gaillardine de Fréchou foi uma mulher e a única pessoa que, diante da proposta de um arrendamento aos habitantes de Cauterets, nos Pirineus, pela Abadia de Saint Savin, votou pelo Não, quando a cidade inteira votou pelo Sim. Nas atas dos notários é muito frequente ver uma mulher casada agir por si mesma, abrir, por exemplo, uma loja ou uma venda, e isto sem ser obrigada a apresentar uma autorização do marido. Enfim, os registos de impostos, desde que foram conservados, como é o caso de Paris, no fim do século XIII, mostram multidão de mulheres exercendo funções: mestres, médica, boticária, estucadora, tintureira, copista, miniaturista, encadernadora, entre outros ofícios.

[4] Braudel, Fernand, Civilisation, économie et capitalisme, XVe-XVIII e siècle. Les jeux de l’échange. Paris: Armand Colin, 1979.)

[5] Kant, e. Fundamentação da Metafisica dos Costumes.1960, Edição Atlântida, Coimbra, pp93-94.

[6] Illich, Ivan A Convivencialidade,1976 Coleção: Estudos e Documentos pp 48-9.

[7] Casey, James, A História da família. Nota: O autor mostra que o dinheiro ficava acima da honra e, a conquista das herdeiras tem um lugar por se estudar da história do capitalismo,1989, Editorial Teorema, pp 119-111

[8] Simmel, George, O Conceito da tragédia n Cultura. Extraído de: Souza, Jessé e Öelelze, Berthold. 1998. Simmel e a modernidade. Brasília: Un B. p. 79 -108., pp20-25

[9] Bauman, Zygmunt, O mal-estar da pós modernidade, Jorge Zahar Editores, Rio de Janeiro. P27.

[10] Touraine, Alain, Un nuevo paradigma para comprender el mundo de hoy.  2006 Paidos, Buenos Aires. p. 63.

[11] Giddens, Anthony Z. Bauman, N.Luhmann, U.Beck Moderrúdad,contingencia . y nesgo, Cultura libre,

[12] Deusdado, Ferreira, Manuel, Ensaio psicológico da mulher sob o ponto de vista da antropologia e da história, 

[13] Manso, Artur, Uma visão particular da mulher e da sua educação na transição do século XIX para o século XX. 2007 Revista Brotéria, Cristianismo e Cultura, pp.335-355

 


 

  • © Lúcia Costa Melo Simas (Texto)  -  Regressar a   " Os "Trabalhos e Dias" "

  • © Colaboração na concepção da página - Levi Malho.

  • Actualizado em 05.Setembro. 2013

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