" Talvez um dia "
Eles não sabem. Sobre a "condição feminina" e o que mais se verá...
© Lúcia Costa Melo Simas ( 2013 )
Parar e Pensar
[ Pórtico de entrada de zona conventual. (Pormenor ) Brugges. Bélgica. 2007. ]
© Levi Malho
Eles não sabem e nós também não ! Quem ama, odeia, vive e morre não sabe o que o faz mover. Todo o amor é verdadeiro na grande mentira onde mergulham os sentimentos que nos guiam e tão mal conhecemos a raiz. Quem tem coragem de retirar o véu de Maia e descobrir que vivemos e morremos, na ilusão, manipulados como fantoches? A caverna de Platão nunca teve tantos habitantes e, nem querem pensar em sair de lá. A verdade dói, é amarga. A mentira é suave, doce, insinua-se, quase se torna verdade.
O amor aos livros, aos filhos, à pátria, ao chefe ou ao clube tem a mesma origem exterior a nós e que nos habituamos a considerar nossa. Somos tão sinceros no paradoxo de amar e odiar, sem noção da força da pressão social, da tradição, do que imitamos, ou aprendemos pela vontade alheia e inconsciente. Choramos e rimos por condicionamento. O que se diz “instinto” materno é um dado cultural no âmago da mulher. Dá-se a vida por um ídolo ou por um filho pela mesma causa o amor. Colocamos a adoração no que nos disseram e disseram a todos os outros. O fio não se rompe. Atravessa séculos, agora ainda mais sofisticados e ocultos.
“Nós somos o que nós fazemos e nós fazemos o que a sociedade nos faz fazer.” Ao dizer isto, J. Watson mostrava uma realidade aterradora. Até alterou a noção de justiça e retirou a responsabilidade da ação que passou a ser reação. Isso é tão real que, só uma ínfima parte de nós tem consciência de si e, mesmo essa, é turva. Eles não sabem que o sonho não comada coisa nenhuma. Quem sonha adormece de vez, ou acorda para uma realidade que não quer aceitar. O sonho transforma-se apenas em monstros da razão assim diz Goya, ou derrete-se. Aprendemos o que é o mal e o bem como o gosto do chocolate e do limão. Condicionados a dar e tirar a vida em forma de crime, dever ou sacrifício. Dá-se a vida por uma bandeira, ou tira-se pela mesma causa, mata-se uma pessoa que nem se conhece mas é um soldado “inimigo”, trabalha-se até mais não para dar educação que não se teve a filhos. Cuidar é dever de pai não é de filhos. Filhos, talvez, cuidem de neto.
Não se repete o mesmo, descascam-se cebolas e quase se chora por isso.
A justiça não é cega, é vesga. António José da Silva, o judeu, queimado na fogueira da Inquisição, escrevia que taparam os olhos à justiça, não para ser cega, mas porque é vesga. Vamos ao nosso bom Gil Vicente e ele atreve-se a dizer diante do rei: “Nós somos vidas das gentes e morte das nossas vidas.” Teve sorte e escapou à ira de D. Manuel. Os cruzados, por amor a Jesus Cristo que era Amor, perseguiam e matavam os infiéis. Os bons “homens bomba” que se fazem explodir por martírio, testemunhas, da sua fé, querem dar cabo desses infiéis que agora somos nós. Mudou alguma coisa?
O que se diz democracia seria uma igualdade básica que não existe. A democracia é um mito, nunca existiu, nem existe. O voto, é do povo, o que pensa o povo? Não há machado que corte a raiz do pensamento, bonita letra, Manuel Freire. Porém para que é o machado? É melhor comprar o pensamento, raro tem preço alto e pouco mais ainda o que não se vende. O mundo tem sempre uma milhões de cabeças que quererem o poder. Só que o poder não os quer. O opo exige traição, veneno, manha, ódio, loucura, gozo, horror, pesadelos e a hipocrisia maior. Matam e traem pelo poder. O poder é lisonjeiro, basta beber um gole e logo dá uma sede insaciável. Antes de chegar ao topo, rasteja, insinua-se, meandroso como serpente na “floresta dos enganos”. Quase nem se nota mas depois embriaga e enlouquece. Quem está no topo tem muitos aduladores que, julgam serem amigos que não lhe dizem a verdade. No cimo, só se chega quem sabe movimentar e adular as massas. Estas já não são rebeldes nos tempos dos simulacros. Treinam-se as massas e ficam em maiorias silenciosas que se tornam amorfas, apáticas.A democracia não existe quando milhões de seres humanos dão o seu voto como fãs de futebol e cada presidente é um pequeno Cristiano Ronaldo rodeado de adoradores que recebem “relíquias” do seu pequeno chefe, tal qual rebuçados para crianças. O Benfica e o Sporting, mais os Leões do norte são mais inofensivos mas originam tanta floresta de enganos como a política, com quatro ou cinco teimosos perdedores e um só vencedor a curto prazo. Cada vez mais curto e desiludido. É verdade! Eu vi no telejornal! É verdade, passou na Internet. É verdade, foi o meu vizinho que ouviu e ele não mente. É verdade, quem disse foi o contínuo que ouviu ao Presidente! É verdade, vem no livro de ciências! É verdade, a mim, ninguém me engana!
Eles não sabem! Ninguém sabe! As massas não percebem como são enganadas e não sabem que desejam o que outros querem que gostem. Não são trocadilhos, são verdades. Para que servem os estudos do mercado? Para que serve a moda? Para que serve toda a publicidade, suave, agressiva ou aterradora? Vender e fazer comprar. Compram-se, conforme o mercado, ideias, amores e ódios, casas, carros, ministérios e desgraças, a ordem da compra é aleatória. “Compra, usa e deita fora”. Compra-se um desejo, obtém-se um objeto. Tudo tem preço. Só é preciso saber qual é e como o pagar. Basta usar para estragar e deita-se fora o que é lixo. No último corredor, sentados ou de pé, com um voto na mão, antes da eleição, somos os maiores! Depois do voto, volatizamo-nos. O voto é a arma do povo? Que voto? Que arma? Que povo?
Um voto de um sábio é o mesmo de um idiota, entenda-se pelo que os gregos chamavam a quem nada queria saber de política, ou entenda-se por aquilo que se queira. A arma? É de cruz descarregada depois de milhões votarem sem saber que nada podem. O povo já não é povo, é maioria para sociólogos e políticos, é opinião pública para politólogos e comentadores de comentadores, de comentadores de frases feitas que ninguém já escuta, para os sindicalistas são a massa dos trabalhadores, para os filósofos são os alienados, Ah! E para os governantes, são os “anjinhos”! A democracia não existe, mas não se diz isto porque é tabu. Não há melhor forma de governar entre todos os piores é o melhor, diz B Russell, mas era conde, excêntrico, genial, filósofo, matemático com Nobel por ser cientista. Não há Nobel para filósofos e o Nobel é político. Russell teria razão ao dizer; “estamos todos no mesmo barco. Ou se salvam todos ou não se salva ninguém.” O novo Titanic não é filme, somos nós e não há salva-vidas.
O mundo é cada vez mais pequeno e, tal como o poder, tem um prazo cada vez mais curto. Tudo se paga com o preço mais terrível, o tempo. Com tempo se compram detergentes, roupa de marca, Ferrari, joias e comida. A ordem é um fator sem interesse. A sociedade é massa cega sem tino. A racionalidade da solidão é a antítese do desvario da multidão, só “som e fúria”. É difícil permanecer imperturbável face às massas exaltadas. A opinião pública fabrica-se, distribui-se e arruma as contas. Junto com a estatística temos a perfeita mentira científica bem perigosa, que acerta no geral e mata no particular.
O sol que nos ilumina é o mesmo para todos. O resto?
© Lúcia Costa Melo Simas (Texto) - Regressar a " Os "Trabalhos e Dias" "
© Colaboração na concepção da página - Levi Malho.
Actualizado em 14. Abril. 2013
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